Gil Sampaio (CPES), Luís Santos (CRIIS) e Paulo Ferreira (SAAF)

Gil Sampaio (CPES)

“No projeto europeu EUniversal, para além do desenvolvimento das aplicações para a monitorização e controlo da rede de baixa tensão, desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento e integração da DSO Toolbox nos sistemas da E-REDES, que viabiliza a integração de novos serviços de flexibilidade fornecidos pelos consumidores ligados à rede de distribuição. A toolbox integra aplicações que permitem avaliar potenciais restrições técnicas, quantificar as necessidades de flexibilidade e selecionar ofertas presentadas em mercado. Isto envolveu a orquestração de diferentes ferramentas dos parceiros como a E-REDES, as plataformas de mercado da N-SIDE e NODES e da CENTRICA como agregador de flexibilidade. O trabalho do Gil Sampaio foi fundamental para garantir o sucesso das atividades de demonstração no piloto português”.

– coordenação do CPES

O Gil esteve envolvido no projeto EUniversal; pode falar-nos um pouco mais sobre esta iniciativa (principais objetivos/metas, resultados, fator diferenciador, etc.)?

Um dos principais objetivos do projeto EUniversal assentava na atribuição de um papel mais relevante aos consumidores de eletricidade, de forma a este poderem ativamente fazer parte da solução para uma acelerada transição energética, como de resto é defendido pelo European Strategic Energy Technology Plan e pelo European Green Deal. Para tal, foi desenvolvida uma arquitetura facilitadora da integração de plataformas de negociação de flexibilidade, a Universal Market Enabling Interface (UMEI), que oferece a operadores de redes de distribuição uma alargada fonte de recursos flexíveis (e.g., consumidores/produtores alteram comportamentos a troco de algum incentivo financeiro). 

No entanto, ainda antes da criação de mecanismos facilitadores da participação de novos recursos em mercados de flexibilidade, existem desafios sérios quanto à observabilidade e gestão desta parte do sistema elétrico, particularmente quando é crescente a integração de recursos de natureza renovável e de cargas de elevado consumo como é o caso da mobilidade elétrica. O projeto EUniversal diferenciou-se não só pela abordagem aos mercados de flexibilidade, mas também por endereçar este novo paradigma de exploração das redes elétricas, em que o operador, seguindo critérios de custo, eficiência e resiliência, deve procurar aplicar estratégias preventivas de gestão assentes na coordenação entre os diferentes de tensão, deste a alta, à baixa tensão, e considerando múltiplos horizontes temporais. 

Quais foram os principais desafios deste projeto, nomeadamente em termos das tarefas que desempenhou no âmbito do mesmo? E de que forma poderá o EUniversal servir para destacar o trabalho do CPES, e também do INESC TEC? 

Melhorar as condições de observabilidade das redes de distribuição é um desafio que desde há algum tempo tem sido apontado como chave para garantir critérios de segurança operacional e poder usar eficientemente recursos renováveis. Aliás, o CPES conta já com contributos científicos de relevo neste tópico, com trabalhos de reconhecido valor na área da previsão da produção de recursos renováveis, e na utilização de ferramentas de aprendizagem automática que extraem informação de enormes volumes de dados, por exemplo, de contadores inteligentes de consumidores, para estimar o estado operacional das redes. De igual forma, possuímos bastante experiência no desenvolvimento de algoritmos de apoio à decisão, quer ao nível do planeamento, quer ao nível da operação. O alinhamento da nossa experiência acumulada com o âmbito de inovação estabelecido pelo projeto EUniversal permitiu construir e ferramentas de apoio à operação de redes de distribuição e demonstrar o seu elevado nível de maturação. Os resultados provam o nosso potencial de desenvolvimento de soluções em estágios pré-comerciais, cimentando a posição do INESC TEC enquanto instituição de inovação que responde a problemas reais das empresas.

O meu papel no EUniversal passou inicialmente pelo desenvolvimento e melhoria de ferramentas para a estimação do estado de redes de baixa tensão e de controlo de recursos flexíveis. A particularidade destas ferramentas passa pela utilização exclusiva de dados provenientes de contadores inteligentes de clientes, contrariamente às abordagens tradicionais que requerem uma representação exata do modelo físico das redes. Além disso, as técnicas aplicadas utilizam protocolos algébricos de troca de informação que garantem a privacidade dos dados de consumo dos clientes. Numa fase mais próxima da demonstração em ambientes real, assumi responsabilidades de apoio e orientação no desenvolvimento de outras ferramentas, precisamente devido à minha experiência na integração e operacionalização deste tipo de software em sistemas de controlo de operadores de redes de distribuição.

Do que mais gosta no seu trabalho?

Em primeiro lugar, aprecio particularmente a diversidade de desafios que me têm sido propostos ao longo dos anos, exigindo-me uma constante adaptação e oferecendo-me um enriquecimento técnico que dificilmente seria possível noutra organização. Em segundo lugar, orgulha-me poder fazer parte de um grupo onde constam certas individualidades cujo brilhantismo e contributo científico é sobejamente reconhecido, imperando, no entanto, um espírito de humildade e entreajuda que fomenta a partilha de conhecimento. 

Como comenta esta nomeação?

Gostaria de expressar o meu mais sincero agradecimento à coordenação do CPES, mais do que por esta nomeação, por me permitirem fazer parte da sua equipa de “Extraordinários”.

Luís Santos (CRIIS)

“A coordenação do CRIIS propõe para ‘Extraordinário’ o investigador Luis Santos. Esta nomeação é sustentada no profissionalismo, motivação e dedicação incansável do Luís Santos nas diversas atividades de investigação e das demonstrações da equipa TRIBE que tem vindo a desenvolver no CRIIS. O seu trabalho em algoritmos de planeamento de trajetórias seguras para robôs agrícolas sustentou a participação de uma equipa liderada por ele à competição Hackathon Grand Défi Robotique Agricole do FIRA 2024, onde ficaram classificados em segundo lugar. O Luís tem demonstrado um elevado nível de empenho que merece ser reconhecida publicamente neste forúm”.

– coordenação do CRIIS

O Luís integra a equipa do TRIBE, e está no INESC TEC desde 2017; consegue descrever-nos um pouco do seu trabalho, das suas atividades, e do seu trajeto até aqui, no seio da instituição? 

Entrei no INESC TEC após a conclusão da minha tese de mestrado, que já tinha sido no âmbito de robótica para agricultura. Desde então que me dedico à investigação e desenvolvimento de métodos de planeamento de trajetórias seguras para robôs na agricultura, e mais recentemente, na segurança e supervisão de operações robóticas neste meio. Durante este percurso, que já leva sete anos, concluí o meu doutoramento e tive oportunidade de participar em diversos projetos e iniciativas de investigação, tanto a nível nacional como europeu.

Há algum projeto ou iniciativa, ou mesmo algum momento que considere ter sido impactante na sua carreira enquanto investigador?

Em termos de projetos gostaria de destacar dois: O projeto ROMOVI, que consistiu no desenvolvimento de um robô autónomo para monitorização em vinhas de encosta. Foi no âmbito deste projeto que fiz a minha tese de mestrado, e iniciei a minha carreira na investigação. Algo que até então, eu ainda não tinha considerado como uma hipótese para a minha vida profissional. Destaco também o projeto europeu SCORPION, que consiste em soluções robóticas de pulverização de precisão. Permitiu a colaboração com diversos parceiros europeus, e a cooperação no terreno em ambientes diferentes da realidade portuguesa (Espanha e Itália).

Uma equipa liderada por si alcançou o pódio numa hackaton, no âmbito da FIRA 2024; pode explicar-nos a base do trabalho desenvolvido, e qual o principal objetivo?

Este desafio consistia em responder a problemas de navegação autónoma em ambientes agrícolas, recorrendo a simuladores realistas.  Nós competimos na área de desvio de obstáculos dinâmicos.  Numa primeira fase, fomos os primeiros classificados, entre sete equipas. Na fase final, a competição era entre todas as áreas, e ficamos em segundo lugar, com um prémio de 2500€.

A base deste desafio teve origem em métodos desenvolvidos durante o meu doutoramento para desvio de obstáculos, que foram melhorados e adaptados em colaboração com os meus colegas José Sarmento e Francisco Oliveira, a quem agradeço pelas suas contribuições significativas. A iniciativa de participar neste desafio, surgiu do José Sarmento, que achou o desafio interessante, e convidou os elementos da equipa para participar.

Do que mais gosta no seu trabalho?

Do incrível espírito de equipa que existe no nosso laboratório. Gosto também de poder contribuir para avanços tecnológicos significativos nesta área de robótica para agricultura.

Como comenta esta nomeação?

Esta nomeação é uma honra e um reconhecimento do meu esforço e dedicação. Agradeço a oportunidade de fazer parte dos “Extraordinários” do BIP INESC TEC e espero continuar a contribuir para a comunidade científica.

Paulo Ferreira (SAAF)

 “Gostaria de nomear o Paulo pelo excelente trabalho de acompanhamento do concurso de projetos FCT- Concurso de Projetos de IC&DT em todos os Domínios Científicos 2023, que encerrou a 21 de março. O Paulo geriu a articulação com os investigadores do processo de submissão de candidaturas, demonstrando um notável profissionalismo, empenho e dedicação. Elaborou e disponibilizou suportes à organização da informação necessária à submissão da candidatura, promoveu sessões de esclarecimento com os investigadores e respondeu a todos os pedidos de esclarecimentos por email e telefone, esclareceu dúvidas junto da FCT e através do Balcão, demonstrando um elevado nível de resiliência, e submeteu as 39 candidaturas lideradas pelo INESC TEC. De destacar ainda que este concurso implicou novos desafios e dificuldades numa nova plataforma e com diferentes regras aplicáveis”.

– Marta Barbas, Adjunta da Administração e Responsável do SAAF 

O Paulo acompanhou o concurso de projetos FCT, cujo processo relativo a 2023 terminou no mês passado – traduzindo-se na submissão de 39 candidaturas lideradas pelo Instituto. Quão importante foi este trabalho, não só para o cumprimento dos objetivos do SAAF, mas também do INESC TEC? Que grandes diferenças aponta em relação a processos anteriores (flow de trabalho, envolvimento, dimensão, tarefas, metas, etc.)? 

O concurso de projetos FCT é estruturante na atividade do INESC TEC, e, por inerência na do SAAF. Neste sentido, obviamente que quando um concurso com esta dimensão se encontra aberto, requer um esforço adicional significativo, que se prioriza face às demais tarefas que continuam a surgir no dia-a-dia. Tal acontece não apenas pelo volume de propostas apresentadas, 39 lideradas pelo INESC TEC a que se juntam outras 32 em que o INESC TEC é instituição participante, mas também porque é necessário todo um trabalho de preparação prévio: realização e compilação de materiais para auxiliar os investigadores no processo de submissão, estudo rigoroso do aviso de abertura de candidatura e dos regulamentos, bem como a exploração do software em que serão efetuadas as submissões. A grande diferença face a edições anteriores deste concurso foram fundamental três: a nova plataforma de submissão, o Balcão dos Fundos, que substituiu o MyFCT, uma vez que neste concurso existe cofinanciamento dos Fundos de Coesão (COMPETE 2030 e PO’s Regionais), o novo regime de custos elegíveis, que pela primeira vez assenta no regime de custos diretos simplificados, o que exige todo um novo quadro mental na elaboração e validação dos orçamentos, mas, principalmente, o facto de a submissão das candidaturas passar a estar a cargo da Instituição e não do Investigador Responsável, tendo cabido ao SAAF, e a mim em particular, tal tarefa.

Quais foram os principais desafios encontrados no decorrer deste processo?

Destaco o facto de este processo ter arrancado com diversos constrangimentos, a começar pela atribuição dos acessos ao Balcão dos Fundos aos Investigadores Responsáveis, mas também devido a alterações no formulário que foram sendo efetuadas, assim como a diversos aspetos não devidamente clarificados no mesmo. Há ainda a usual dificuldade de gerir prioridades de diversos investigadores, sendo que compreendo que para todos a sua candidatura seja prioritária, é impossível dar resposta a todos em primeiro lugar, pelo que um concurso com esta dimensão implica uma gestão muito eficaz da caixa de correio e do telefone. Só encontro paralelo com este concurso no de 2017.

A este respeito, aproveitando este pequeno tempo de antena, gostaria de dar nota de um desafio estrutural que entendo que estamos a enfrentar. Entendo que urge motivar um espaço de reflexão a respeito da participação do INESC TEC neste importante instrumento de financiamento, pela natureza da tipologia destes projetos. O volume de financiamento disponibilizado foi superior ao referido concurso, sendo que no mesmo submetemos o dobro do número de candidaturas em comparação com o concurso deste ano. Considerando que o regulamento deste ano era mais limitativo quanto ao número de candidaturas em que cada investigador podia estar envolvido, a nível nacional, comparativamente, foram apresentadas apenas menos 3,5% de candidaturas do que em 2017, porém, no INESC TEC essa quebra foi de, exatamente 50%. No referido concurso foram financiadas 50% das propostas submetidas, será provável que neste concurso a taxa de aprovação, face ao financiamento disponível que é significativamente superior, venha a ser ainda maior.

Neste sentido, entendo o INESC TEC está, globalmente, a apostar menos no que seria desejável nesta tipologia de financiamento. Note-se que desde 2017 a taxa de participação nos concursos tem vindo sistematicamente a diminuir, sendo que a taxa de candidaturas que envolvam mais do que um centro é hoje mais baixa do que no passado, o que também considero relevante. Inverter esta tendência de participação reduzida, parece-me ser um dos desafios relevantes para uma próxima edição. Outro objetivo que considero muito relevante concretizar seria o de ter as candidaturas corretamente instruídas e revistas, prontas para submissão alguns dias antes do encerramento do prazo para o final do concurso.

Do que mais gosta no seu trabalho?

Esta resposta é simples: no INESC TEC não há um dia que seja igual ao anterior. Os desafios podem ser similares, mas existem “n” variantes que fazem este trabalho não se tornar monótono. Existe, igualmente, uma excelente cultura de Instituição, que facilita o trabalho. Há, verdadeiramente, espírito de equipa, nesta casa.

Como comenta esta nomeação? 

Com um agradecimento sincero, à pessoa da minha responsável, Dr.ª Marta Barbas. Vejo nesta nomeação um reconhecimento sincero do esforço que foi por mim efetuado, para que pudéssemos levar a bom porto esta hercúlea tarefa. A minha responsável merece também um louvor público, por todo o esforço e dedicação que há muitos anos dedica ao INESC TEC. É, sem dúvida, um exemplo de um desempenho que merece ser (re)conhecido.

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