“De onde vimos? Para onde vamos?” – foi assim que João Gama – um dos cientistas mais citados do mundo – se despediu da sua atividade de docência

35 anos separam o início e o fim da carreira de docente de João Gama, um dos cientistas mais citados do mundo. O investigador do INESC TEC, que deu a sua última aula a 25 de novembro, despediu-se, assim, das salas de aula da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP). O mote? “De onde vimos? Para onde vamos?” – o culminar de uma carreira académica repleta de reconhecimentos, em particular, nas áreas de Inteligência Artificial (IA) e Machine Learning.

Estávamos em 1956 quando surge, pela primeira vez, o termo inteligência artificial. “Tinha eu dois anos”, conta aquele que viria a revelar-se um dos maiores especialistas da área, a nível mundial. E conseguiu tornar-se num dos homens mais influentes numa área cheia de “primaveras e de vales de desilusão” ao longo dos anos.

De acordo com João Gama, os tempos que vivemos hoje são de uma nova primavera da IA. Ao longo de cerca de uma hora, o cientista falou da evolução da IA, do seu percurso, das pessoas que dele fizeram parte, dos projetos em que participou – enquanto investigador do INESC TEC – e que fizeram avançar o estado da arte.

Desde o projeto europeu Statlog, em 1991, que se centrava em algoritmos de aprendizagem, a outros mais recentes, como o FailStopper, que permitia detetar a ocorrência de falhas em veículos de transporte coletivo e, ainda, a outros atuais, como o EMERITUS, que faz uso de inteligência artificial para melhorar a capacidade de investigação em crimes ambientais – foram várias as estórias contadas sobre os resultados atingidos ao longo de mais de três décadas, numa primeira parte da aula dedicada ao tema “de onde vimos?”.

“Para onde vamos?” – os prémios Nobel deste ano, nas áreas da física e da química parecem, de facto, reforçar a nova primavera de IA e sobre esse tema, João Gama, já tinha dado o seu parecer e sido ousado nas palavras ao dizer que “quem ganhou os prémios Nobel da Física e da Química, em 2024, foi a IA”. O investigador do INESC TEC falou dos benefícios, reforçados nos Nobel – “a inteligência artificial é a vingança da classe operária” – e também dos malefícios, nomeadamente no que diz respeito a crimes de cibersegurança. Porém, até em relação aos malefícios, a IA, se usada de forma responsável, pode ser uma arma de combate.

Não terminou sem antes agradecer e, mais do que isso, mostrar as caras de todos que contribuíram para este percurso. “Não fiz nada sozinho, tenho de agradecer às minhas equipas, mas, acima de tudo, aos meus alunos”.

“O homem que nunca quis títulos, mas que sempre foi dos melhores”

Quem o disse foi Paulo Novais, professor catedrático na Escola de Engenharia da Universidade do Minho, e uma das oito pessoas escolhidas para fazer o elogio ao docente, na primeira parte da aula. Nacionais e estrangeiros, todos enfatizaram o trabalho do docente que chegou a coordenar a estratégia nacional para a Inteligência Artificial, a pedido do anterior governo.

A cerimónia foi toda ela conduzida por José Manuel Mendonça, antigo presidente do conselho de administração do INESC TEC.

A entrevista feita pela Universidade do Porto a João Gama, a propósito da sua última aula, e que contém mais informação sobre o percurso académico e de vida deste cientista pode ser consulta aqui.

 

O investigador mencionado na notícia tem vínculo ao INESC TEC e à UP-FEP.

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