Mobilizar, colaborar, investir. Estas foram algumas das palavras que marcaram o debate promovido pelo INESC TEC na edição de 2023 do Fórum do Outono. O evento reuniu quase três centenas de participantes, para refletir sobre os ecossistemas de inovação e o papel das entidades de interface.
Na oitava edição do Fórum do Outono, o INESC TEC desafiou a academia, a indústria e a administração pública a debater o papel das entidades de interface nos ecossistemas de inovação, sobretudo numa altura em que o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), em particular as agendas mobilizadoras, assume especial relevância. O objetivo? Refletir sobre o desenvolvimento destes ecossistemas, projetando o futuro a partir do atual contexto e com base em exemplos nacionais e internacionais.
“A ideia do Fórum do Outono que procuramos realizar todos os anos é juntar um conjunto de pessoas, a título individual ou institucional, que podem dar um forte contributo para a discussão de temas de grande relevância sobre o papel da ciência e da tecnologia e a inovação no desenvolvimento económico e social”, afirma Pedro Guedes de Oliveira, consultor da administração do INESC TEC e co-responsável, juntamente com José Carlos Caldeira, membro do conselho de Administração do INESC TEC, pela organização do evento. “A nossa expectativa é, por um lado, que nós próprios e instituições semelhantes sejam capazes de aprender com este tipo de opiniões e com aquilo que ouvimos, mas também influenciar e tornar público que estas discussões são fundamentais para a sociedade”, reforça.
De acordo com Pedro Guedes de Oliveira, considerou-se oportuno convocar as entidades nacionais que compõem o ecossistema de inovação para refletir sobre o seu desenvolvimento. “Neste ano de 2023, em que procuramos ser capazes de passar por cima do tantas vezes invocado “Vale da Morte”, pensámos que seria mais do oportuno chamar todas as entidades envolvidas no processo de inovação para com elas debater como desenvolvê-lo, tendo como perspetiva o lugar central que as entidades de interface têm neste processo”.
O evento contou com a participação de Elvira Fortunato, Ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Presente na sessão de abertura do evento, Elvira Fortunato aproveitou para destacar o impulso que o PRR pode dar à economia portuguesa e a importância do mesmo para a inovação empresarial. “Estamos a viver um período que nunca vivemos, nunca tivemos acesso a tanto financiamento. É uma oportunidade única, e temos de trabalhar cada vez mais”, defende.
Ainda sobre o tema do evento, José Manuel Mendonça, presidente do Conselho de Administração do INESC TEC, afirmou que o sistema de ciência e tecnologia e o ecossistema de inovação são hoje mais importantes do que podemos pensar. “Ao debatê-los, estamos a debater o nosso futuro”, reforçou.
O evento, que decorreu no dia 21 de novembro, na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), teve ainda a presença de António Sousa Pereira, Reitor da Universidade do Porto, e Rui Calçada, Diretor da FEUP.
A cobertura do ciclo de inovação e os programas de apoio
Este ano, o evento contou com duas intervenções convidadas, dedicadas a diferentes ecossistemas de inovação, introduzidas por José Carlos Caldeira, membro do Conselho de Administração do INESC TEC, com uma breve apresentação do ciclo de inovação e as suas principais atividades, nomeadamente a investigação, a demonstração e desenvolvimento de pilotos, a intervenção junto do mercado, e a valorização da tecnologia desenvolvida na investigação. Contudo, há uma fase transversal que tem estado menos evidente e que diz respeito à disseminação do trabalho produzido. “A maioria dos problemas podem ser resolvidos com tecnologias já existentes, sendo apenas necessário reutilizá-las ou adaptá-las, sem ser necessário voltar à investigação inicial”, afirma José Carlos Caldeira. Por outro lado, é importante reter que “este ciclo tem de ser sempre acompanhado de edução e formação de todos os atores, sob pena de termos muito bons resultados, mas sem as pessoas que os possam aplicar”, explica. Rikardo Bueno, Diretor Geral do Basque Research & Technology Alliance, começou por apresentar o exemplo do País Basco, no qual deu a conhecer o plano estratégico da região para encarar os desafios na área de ciência e inovação.
A segunda intervenção ficou a cargo de Philippe Larrue, da Direção de Ciência, Tecnologia e Inovação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que procurou explicar a evolução estrutural de que têm vindo a ser alvo as instituições de investigação e tecnologia, no âmbito da transformação ecológica e digital a nível mundial.
Depois das intervenções iniciais, com uma perspetiva nacional e internacional, o evento organizou-se em dois painéis de discussão. No primeiro, moderado por Luís Seca, membro do Conselho de Administração do INESC TEC, foi debatido o papel das entidades de interface, o seu posicionamento e as suas inter-relações, e contou com a intervenção de Maria Mota (Diretora Executiva do iMM), José Carlos Pedro (Presidente do IT), António Braz Costa (Diretor Geral do CITEVE) e Ondina Afonso (Diretora de Qualidade e Investigação na MC Sonae).
Por sua vez, o segundo painel versou sobre os modelos de operação e financiamento e o papel do Estado, composto por Alexandra Vilela (Vogal Executiva do Conselho de Administração da ANI), Nuno Gonçalves (Vogal do Conselho Diretivo do IAPMEI), Ricardo Simões (CCDR-N) e António Bob Santos (Membro do Conselho de Diretores da FCT), que discutiram o tema sob moderação de José Manuel Mendonça.
A síntese e as conclusões
No que diz respeito à área de inovação, há desafios nítidos e profundos que exigem novas respostas alargadas, por parte dos ecossistemas de inovação e entidades de interface, de forma integrada e coletiva. Esta será a principal ideia a retirar da síntese do Fórum do Outono, apresentada por João Claro, vice-presidente do Conselho de Administração e presidente da Comissão Executiva do INESC TEC. “Os novos desafios obrigam estas instituições de interface a dar passos, a transformarem-se e a evoluírem para serem mais estratégicas e mais fortes em termos de planeamento e prioridades, para serem mais transversais e mais sistémicas, com uma mentalidade de ligação às outras entidades e ao próprio ecossistema”, defendeu, salientando que “a transformação tem de começar agora para sermos capazes de antecipar o futuro”.
João Claro aproveitou também para resumir os “quatro segredos de sucesso em termos de políticas públicas”, retirados do exemplo apresentado por Rikardo Bueno acerca do País Basco, mas considerados essenciais para este ecossistema: políticas sustentadas, financiamento de base, transferência de tecnologia e redes de cooperação. “Tudo isto tem que ser associado a uma visão e a uma estratégia mobilizadora que tem que se dirigir aos benefícios económicos, a questões de competitividade, ao desempenho da inovação e tudo o que advém daí, mas também ter que ir além disso”, esclareceu. “O que nos mobiliza em termos de inovação, em maior escala, é resolver problemas importantes, mais rapidamente, e temos muito potencial nas nossas pessoas para libertar”, concluiu o CEO do INESC TEC.
João Claro adiantou ainda que o próximo número da revista INESC TEC Ciência e Sociedade vai ser dedicado a este tema e os conteúdos irão ao encontro das intervenções e debates que decorreram ao longo do dia. INESC TEC Ciência e Sociedade é uma publicação bianual, editada pelo INESC TEC, em que cada edição aborda um tema especial, sem excluir artigos de outros temas relevantes para a sociedade, com o objetivo de divulgar ciência e contribuir para o debate das políticas mais influenciadas pela tecnologia.
Os colaboradores do INESC TEC mencionados na notícia têm vínculo ao INESC TEC e à UP-FEUP.