Depois de anos de trabalho de investigação em torno da doação renal cruzada, um grupo de investigadores de quatro instituições europeias sem fins lucrativos avança, agora, com a criação de uma empresa que irá ampliar as oportunidades dos pacientes com doença renal crónica (DRC) na procura de dadores compatíveis para transplante. A Spin-off endereçará o impacto devastador que a insuficiência renal crónica tem na vida dos pacientes, e a escassez de dadores vivos para transplantes, opção de tratamento que oferece maior qualidade de vida e melhores perspetivas de sobrevivência a longo prazo em comparação com a diálise.
A doença renal crónica (DRC) é uma patologia de longa duração que leva à perda da função renal, tornando-se progressivamente mais debilitante. Quando a função renal se torna insuficiente, é necessário recorrer a tratamentos de substituição: diálise ou transplante renal.
O software em causa tem sido utilizado, em fase de teste, por algumas organizações parceiras, que coordenam programas de doação renal cruzada (KEPs, do inglês “Kidney Exchange Programmes”) para identificar compatibilidade entre pacientes e potenciais dadores numa população e otimizar o número de transplantes que podem ser realizados.
Em comparação com o transplante de dador cadáver, o transplante de dador vivo apresenta resultados melhores a longo prazo para os pacientes que o recebem. No entanto, incompatibilidade sanguínea e/ou de tecidos entre dador e paciente pode impedir que um dador vivo doe um rim a um ente querido necessitado.
Os KEPs ajudam a desbloquear este impasse, permitindo que os pacientes que necessitam de um transplante de rim, e que têm um dador disponível, mas incompatível, “troquem” os seus dadores levando a um ciclo de transplantes.
Em termos práticos, os dadores que se voluntariam para doar órgãos a alguém que conhecem, mas com quem não são compatíveis, podem, com a ajuda destes programas, descobrir desconhecidos com os quais são compatíveis e permitir que um paciente que, de outra forma não o seria, possa receber um transplante.
Inicialmente, o foco da KEPsoft Collaborative estará nas organizações europeias de transplantação, mas planeia colaboração futura com organizações fora da Europa, onde ainda existem muitos países sem KEPs. Na verdade, estima-se que aproximadamente 850 milhões de pessoas em todo o mundo tenham doença renal.
Ana Viana, investigadora do INESC TEC e uma das fundadoras do KEPsoft Collaborative, acredita que “O KEPsoft Collaborative é a quintessência de fazer ciência com impacto”. A investigadora relembra que este “é o resultado de muitos anos de colaboração entre várias equipas europeias que tinham como objetivo comum dar um contributo à sociedade, oferecendo novas oportunidades para uma vida melhor e mais saudável aos pacientes que sofrem de uma doença devastadora”.
“A nossa equipa do INESC TEC começou a desenvolver modelos e algoritmos para KEPs em 2008. Mais tarde, quando foi lançado o KEP português (Plano Nacional de Doação Renal Cruzada), esses mesmos algoritmos foram utilizados para identificar e selecionar pares para transplante a nível nacional. Esta foi uma oportunidade desafiante para nós, com a qual também aprendemos muito”, recorda.
Xenia Klimentova, também investigadora do INESC TEC, acrescenta: “Ao longo da última década, a nossa investigação sobre problemas de otimização em KEPs estabeleceu uma sólida base teórica para futuros desenvolvimentos que atenderão às necessidades das Organizações Nacionais de Transplante”. Xenia está convicta de que “a experiência da equipa permitirá fornecer apoio essencial aos decisores políticos, quer ao nível nacional, quer internacional.”
Para além do INESC TEC, a spin-off inclui ainda o Centro HUN-REN de Estudos Económicos e Regionais (KRTK), com sede em Budapeste, a Universidade de Óbuda; e a Universidade de Glasgow. Ana Viana enfatiza que “a colaboração com os colegas da Hungria e da Escócia permitiu concretizar o sonho de intervir a nível internacional” e acredita que “esta é uma parceria duradoura que continuará através da KEPsoft Collaborative”.
Já David Manlove, Professor da Universidade de Glasgow e conselheiro científico da KEPsoft Collaborative, explica que “o objetivo é tornar o transplante renal mais acessível aos pacientes em toda a Europa e fora dela”.
“Estamos muito satisfeitos e orgulhosos por ver que o nosso trabalho irá finalmente beneficiar os utilizadores finais, potencialmente salvando centenas de vidas nos próximos anos em toda a Europa e no resto do mundo”, congratula-se Péter Biró, investigador sénior do HUN-REN KRTK.
Mais informações em: https://kepsoft.org/