INESC TEC integra experiência-piloto para monitorização de ruído no mar

A sul de São Miguel, no arquipélago dos Açores, três boias estiveram durante 24 horas no mar a recolher dados, no caso, ruído relacionado com as atividades humanas e que tem impacto no comportamento dos cetáceos. Foi a primeira vez que se recolheu informação sobre o ruído no mar ao largo de São Miguel – a mais de 10 quilómetros da costa – e esta experiência-piloto contou com a participação do INESC TEC.

“Pode não ser óbvio para uma pessoa que mergulha numa praia, mas o oceano está cheio de sons, tanto de fontes biológicas, como humanas, e que excedem em muito a nossa capacidade auditiva”, começa por referir Nuno Cruz, investigador do INESC TEC, para explicar como é que, na ilha de São Miguel, a equipa conseguiu recolher informação sobre o ruído subaquático e por que motivo é importante ter acesso a esses dados.

O CIBIO e o IS2E LIACC da Universidade dos Açores, o INESC TEC e a Whale Watching Futurismo Azores Adventures juntaram-se, em Ponta Delgada, para a segunda edição do workshop WAVES – Workshop on Advanced Vehicles for Exploration of the Seas. “Para além de mantermos o caráter de discussão e de montra de tecnologia, resolvemos também planear uma experiência científica que permitisse obter resultados concretos. Entre várias hipóteses, planeamos esta monitorização do ruído acústico”, conta Nuno Cruz. O investigador explica ainda que se trata de uma atividade “particularmente relevante nos Açores, atendendo à importância socioeconómica das atividades marítimo-turísticas, que se pretende que sejam desenvolvidas de forma sustentável” – e ao impacto que podem ter no comportamento dos cetáceos.

Neste contexto, os investigadores equiparam três boias com gravadores de som e recetores GPS, o que permitiu uma gravação acústica distribuída em vários pontos e com dados sincronizados. Esta configuração permitiu não só a deteção de sons específicos, como também estimar a localização da fonte sonora. “A emissão e deteção acústica é um tópico fundamental na robótica subaquática, uma vez que sem sinais GPS, é a única tecnologia viável para calcular com exatidão a posição de dispositivos submersos. O INESC TEC desenvolve tanto os recetores acústicos como os emissores, que são adaptados às condições de operação”, diz Nuno Cruz, lembrando a utilização de sistemas semelhantes noutros contextos, como foi o caso do sistema de triangulação acústica usado para localizar mergulhadores no Brasil.

Certo é que esta experiência trouxe um “grande desafio”: a localização da área de estudo – a mais de 10 quilómetros da costa – e a profundidade da zona de operação. Sempre a flutuar, as boias partiram de uma distância considerável e, com as correntes, poderiam ter percorrido uma distância ainda maior e ser difícil recuperá-las. Além disso, havia ainda o risco de se perder a comunicação com as mesmas.

“Normalmente, estas boias ficam fundeadas na costa, em que a profundidade é de algumas dezenas de metros, ou ficam à deriva durante algumas horas e nós ficamos na sua proximidade. Neste caso, a área de estudo situou-se a várias milhas da costa, com profundidade de muitas centenas de metros, pelo que seria muito difícil o fundeamento. Para além disso, o registo iria durar um ciclo de 24 horas.  Tínhamos uma previsão das correntes, mas, em 24 horas, a corrente poderia tê-las levado para muito longe – dezenas de quilómetros – e seria difícil de as recuperar. Mais, se perdêssemos as comunicações, mesmo com uma embarcação rápida, sabíamos que estávamos a mais de uma hora de distância, por isso, era importante uma monitorização constante da posição e velocidade”.

Segundo o investigador do INESC TEC, para o sucesso da experiência foi fundamental o esforço conjunto de várias entidades: a Capitania do Porto de Ponta Delgada, que forneceu modelos de deriva para estimar o percurso das boias; a empresa Whale Watching Futurismo, à qual pertence a equipa de biologia marinha – designadamente as biólogas Laura García e Margarida Rolim que realizam trabalho na área da monitorização de cetáceos -, que lidera o estudo e que apoiou a experiência com uma embarcação, e vigias ao longo da costa para confirmar os avistamentos de cetáceos; e uma equipa de monitorização da posição das 3 boias durante as 24 horas. “Decorreu tudo conforme o planeado. As boias foram lançadas na manhã do dia 17 e recolhidas na manhã do dia 18, tendo sido adquiridos cerca de 40 GB de informação, ao longo de várias dezenas de quilómetros” – informação cuja análise preliminar já permitiu a discussão de novas atividades de monitorização, assim como o planeamento de novas propostas de projetos.

Além de participar nesta experiência de monitorização do ruído, a equipa do INESC TEC realizou ainda uma demonstração do Veículo Submarino Autónomo MARES – estudando a forma como este tipo de veículos podem vir a ser usados na monitorização das estruturas submersas dos portos, por exemplo para detetar fissuras e outras anomalias. “Em simultâneo, já estamos também a discutir a edição do WAVES 2025!”, conclui Nuno Cruz.

O investigador mencionado na notícia tem vínculo ao INESC TEC e à UP-FEUP

PHP Code Snippets Powered By : XYZScripts.com
EnglishPortugal