Ao longo de três anos, o projeto CONVERGE – Telecommunications and Computer Vision Convergence Tools for Research Infrastructures – liderado pelo INESC TEC pretende desenvolver um conjunto de ferramentas inovadoras para apoiar infraestruturas de investigação. No futuro, é expectável que a investigação apoiada por estas ferramentas tenha grande impacto em áreas como a saúde, a indústria, o setor automóvel, as telecomunicações e os media.
É uma nova área de investigação que pretende gerar conhecimento proveniente da interseção das comunicações sem fios, visão computacional, sensorização e machine Learning. No caso do projeto CONVERGE, explica Luís Pessoa, investigador do INESC TEC, Professor Convidado na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e coordenador do projeto, “pretende-se desenvolver um conjunto de ferramentas para infraestruturas de investigação que impulsionem a criação de uma nova área de investigação alinhada com o paradigma ver-para-comunicar e comunicar-para-ver”.
Através da combinação de dados gerados por sistemas de comunicações radiofrequência (RF) e câmaras de vídeo, será possível, garante, “obter novos conjuntos de dados – datasets – que serão disponibilizados de forma aberta à comunidade científica, promovendo a criação de novo conhecimento e novas descobertas”.
“Os sistemas de comunicações que venham a operar em bandas de radiofrequência mais elevadas irão depender muito mais da linha-de-vista para funcionar. Estes sistemas poderão beneficiar da visão computacional fornecida pelas câmaras de vídeo para preverem melhor as dinâmicas do canal de comunicações, nomeadamente antecipar a perda de linha de vista devido a um obstáculo, ou ajudar a construir mapas tridimensionais para melhorar a estimação da posição dos terminais móveis”, exemplifica. Por outro lado, continua, “as aplicações de visão computacional poderão tornar-se mais robustas contra desafios tais como oclusões ou baixa luminosidade quando apoiadas por dados de RF”.
Trata-se de um conjunto de ferramentas inéditas no mundo, que irão, por um lado, fornecer à comunidade científica uma serie de dados exclusivos e abertos e, por outro, melhorar a competitividade das infraestruturas de investigação e das empresas envolvidas.
“Estima-se que uma comunidade de milhares de utilizadores possa aproveitar os resultados do CONVERGE nos próximos 10 anos”, adianta Manuel Ricardo, Professor Catedrático na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), Diretor Associado no INESC TEC e responsável científico do projeto. Entre os vários resultados esperados estão, ainda, a abertura de novas áreas de investigação, o desenvolvimento de novas aplicações industriais capazes de combinar informações de vídeo, sensorização, rádio e tráfego de dados e o aperfeiçoamento das competências de funcionários, estudantes e utilizadores industriais das infraestruturas de investigação, que serão treinados para o uso do novo conjunto de ferramentas.
Áreas como a saúde, a indústria, o setor automóvel, as telecomunicações e serviços de distribuição de conteúdos audiovisuais serão algumas das principais beneficiadas com a investigação apoiada por estas ferramentas, nomeadamente através da avaliação automática da postura de pacientes e do alinhamento de próteses na reabilitação física, no caso da saúde; da melhor compreensão do chão de fábrica, na indústria; da melhoria na perceção do ambiente circundante do veículo bem como das condições externas que podem afetar a qualidade da condução autónoma, no caso do setor automóvel; da possibilidade de controlo da resposta eletromagnética do ambiente, assim como localização de alta precisão e serviços de sensorização do ambiente tridimensional de alta resolução, no caso das telecomunicações; e, no que diz respeito ao multimédia, ao usar a visão computacional para ajudar na diminuição da complexidade computacional na modelização tridimensional por rádiofrequência de objetos e pessoas.
“Atualmente, apenas a infraestrutura COSMOS, nos Estados Unidos da América, parceira do consórcio CONVERGE, disponibiliza o acesso a câmaras como forma de potenciar a investigação que explore a informação captada por estes equipamentos para melhor compreender o ambiente circundante e desta forma desenvolver novos paradigmas e soluções de comunicações”, assegura Luís Pessoa, realçando, no entanto, que “essas câmaras não têm o mesmo ponto de vista das estações base, nem fornecem a repetibilidade e reprodutibilidade completas que se procura no CONVERGE”.
O projeto CONVERGE é coordenado pelo INESC TEC e conta com mais 15 parceiros de 6 países – Portugal, Finlândia, Espanha, França, Reino Unido e Estados Unidos da América. Para além do INESC TEC, a ALLBESMART e a Adapttech são as outras instituições portuguesas que fazem parte do consórcio. O projeto é financiado pela Comissão Europeia em 9 milhões de euros.
Os investigadores do INESC TEC mencionados na notícia têm vínculo ao INESC TEC e à UP-FEUP.