INESC TEC marca presença no Encontro Ciência 2024

O principal evento de ciência e de tecnologia do país rumou, este ano, a Norte, mais precisamente ao Centro de Congressos da Alfândega do Porto, onde se desenrolou de 3 a 5 de julho. O mote foi dado – “+Ciência para Uma Só Saúde e Bem-Estar Global” – e o INESC TEC respondeu com participação em cinco sessões, uma mostra de ciência e tecnologia, apresentações de posters e medalhas de mérito científico.

Cuidados inteligentes: a ponte entre a IA e os Sistemas de Saúde, segundo os avançados realizados nos INESCs

O ecossistema INESC –INESC TEC, INESC-Coimbra, INESC-ID, INESC-MN e INESC INOV – juntou-se para destacar os principais avanços nos cuidados inteligentes através das contribuições emergentes que tem dado naquilo que é a interseção entre a Inteligência Artificial e os Sistemas de Saúde. Para tornar a discussão mais concreta e frutífera, juntaram-se aos investigadores dos vários INESCs, parceiros do setor da saúde, como a Universidade Local de Saúde Santa Maria, o Instituto de Saúde Ambiental (ISAMB) e a Unidade Local de Saúde de Gaia e Espinho.

A sessão, realizada na tarde do primeiro dia do evento, foi moderada pelo investigador do INESC TEC Alípio Jorge. Entre os oradores estiveram: Joana Dias, do INESC Coimbra, Ana Madureira, do INESC INOV, Diogo Caetano, do INESC MN, Rui Henriques, do INESC-ID e Hélder Oliveira, do INESC TEC.

Foram dados vários exemplos de integração entre IA e Sistemas de Saúde, começando pelo tema da otimização de planos de tratamento de radioterapia e na importância da utilização de diferentes abordagens, algumas das quais incluindo IA, sendo a discussão lançada. Este pontapé de saída foi dado pela investigadora do INESC Coimbra. Já o INESC INOV apresentou o projeto europeu e-Hospital 4 Future, cujo objetivo passa por criar cursos e módulos de formação para profissionais de saúde – sejam eles clínicos ou não -, com um foco na transformação digital e na utilização de IA nos dispositivos médicos. A investigadora Ana Madureira anunciou na sessão que os primeiros dos 19 cursos de formação planeados arrancam já em setembro, em formato e-learning e b-learning, e que vai ser lançada uma call para instituições de saúde nacionais acederem a estas formações. O INESC MN apresentou o Bactometer, um detetor biológico que combate a resistência antimicrobiana em ambiente hospitalar quando usado como método de rastreio. De acordo com Diogo Caetano, este detetor utiliza métodos magnéticos e técnicas de machine learning em vez dos métodos óticos, utilizados pela maioria das tecnologias existentes. Rui Henriques, do INESC ID, apresentou alguns projetos de investigação que o instituto tem desenvolvido nas áreas de IA e saúde, como a utilização de robôs para fins sociais, o uso de IA em problemas relacionados com a fala ou a importância da inteligência artificial no diagnóstico e terapêutica do doente, no que diz respeito, por exemplo, à prescrição de medicamentos.

A última intervenção coube a Hélder Oliveira, do INESC TEC, e focou-se naquele que é o primeiro projeto de saúde coordenado pela instituição – o AI4Lungs. O projeto faz uso de novas ferramentas de IA através da utilização de diferentes tipos de dados recolhidos na prática clínica, como auscultação pulmonar, TAC, raio-X, análises clínicas, dados demográficos e clínicos, entre outros. Em Portugal, o parceiro de saúde é precisamente a Unidade Local de Saúde de Gaia e Espinho. Também no âmbito deste projeto, os médicos serão apoiados durante os processos de diagnóstico e tratamento. Mas o projeto introduz outras inovações: em auscultação digital e em biópsia líquida, esta última desenvolvida pelo Instituto de Investigação e Inovação em Saúde – i3S. Se até ao momento a biópsia líquida era utilizada, maioritariamente, em cancros mais avançados, os investigadores do AI4Lungs querem introduzi-la como ferramenta de diagnóstico inicial, poupando, assim, dezenas de outros exames.

A discussão foi longa e variada. Entre os temas mais debatidos, destaque para a dúvida que permanece no que diz respeito à responsabilidade: quem tem a última responsabilidade? Os médicos ou a IA? Um debate, aliás, que o INESC TEC já tinha promovido no terceiro episódio da primeira temporada do Podcast e Videocast “INESC TEC Ciência e Sociedade”, sob o tema – “AI e Cancro – um meio para a deteção precoce?”, e onde o investigador Hélder Oliveira, entre outros, também participou. Outro dos temas que a audiência considera ser ainda pouco explorado – a utilização de AI na organização dos espaços, serviços e RH na medicina. Será este um ponto de partida para novos projetos de investigação dentro do ecossistema INESC? Um futuro próximo dirá.

Projetos colaborativos no âmbito da parceria de Portugal com CMU, MIT e UT Austin

Enquanto o universo INESC discutia AI e saúde, umas salas ao lado, José Manuel Mendonça, anterior presidente do INESC TEC e Diretor Nacional do programa UT Austin Portugal, parceria que o INESC TEC acolhe e coordena desde 2018, dava início a uma sessão coorganizada pelas três parcerias internacionais da FCT – para além de UT Austin Portugal, CMU Portugal e MIT Portugal. A discussão centrou-se na forma como a colaboração com estas três universidades norte-americanas, que já tem quase duas décadas, tem contribuído para o desenvolvimento de talento e para a inovação e o empreendedorismo de base científica e tecnológica. Para isso, a sessão contou não só com equipas dos três programas, mas também com representantes da academia e da indústria, que participaram em atividades, por exemplo, de mobilidade promovidas pelas parcerias. A sessão fez-se da partilha de histórias e de experiências, com especial enfoque no impacto destas colaborações no desenvolvimento de carreiras e negócios.

José Manuel Mendonça deu início à sessão com uma breve retrospetiva sobre as Parcerias Internacionais. Recuando a 2006, José Manuel Mendonça lembrou que o arranque destas colaborações com as universidades norte-americanas, em determinadas áreas científicas, partiu de uma decisão política. Além disso, reforçou a posição que MIT, CMU, e UT Austin ocupam no ranking da Times Higher Education World University – 5ª, 28ª, e 50ª posições, respetivamente – para explicar a oportunidade que a comunidade científica portuguesa tem encontrado, através destes Programas, para trabalhar de forma colaborativa com especialistas de alto nível em áreas em que os parceiros norte-americanos são líderes.

“Embora com ferramentas e configurações distintas, estas parcerias têm um impacto significativo em três áreas principais – educação, investigação e inovação. Portugal teve a oportunidade de aprender com três ecossistemas de ciência e tecnologia diferentes”, referiu José Manuel Mendonça. Entre os vários exemplos dos resultados desta colaboração e processo de aprendizagem, o Diretor Nacional do Programa UT Austin Portugal, identificou a criação e o crescimento de empresas de base científica e tecnológica, algumas fazem hoje parte do grupo de unicórnios, como é o caso da Feedzai, avaliada em 2,4 mil milhões de euros; ou o caminho que se abriu ao desenvolvimento da supercomputação em Portugal. “Não teríamos hoje o supercomputador Deucalion se não tivéssemos tido o supercomputador Bob, e não teríamos tido o Bob se não fosse a colaboração muito próxima com o TACC (Texas Advanced Computer Center)”, recordou.

Antes de avançar para os dois painéis da sessão, José Manuel Mendonça deixou uma palavra sobre o futuro, apelando a que sejam tomadas decisões quanto à evolução das Parcerias Internacionais, não só em linha com as estratégias nacionais, mas também considerando as metas e os compromissos europeus.

Também Lia Patrício, administradora do INESC TEC, e Mariana Miranda, investigadora do INESC TEC, entre outros, participaram nesta sessão, logo no primeiro painel, moderado por Inês Lynce, codiretora Nacional do Programa CMU Portugal, cujo debate se centrou sobre o papel das parcerias no desenvolvimento de talento. Lia Patrício deu, como exemplo, a criação de um novo Programa Doutoral dual em Engenharia e Políticas Públicas, na Faculdade de Engenharia do Porto e no Instituto Superior Técnico, em colaboração com a Carnegie Mellon University, no âmbito do Programa CMU Portugal. Além da capacitação de pessoas, a Lia Patrício lembrou ainda o papel deste Programa na área da investigação e inovação, falando do desenvolvimento da plataforma Patient Innovation, e da criação, em torno desta colaboração, de um “ecossistema único”. “Da minha experiência em CMU, gostaria de destacar a cultura, o dinamismo, o incentivo e o poder que têm de fazer acontecer”, afirmou. Já Mariana Miranda que, para além de investigadora do INESC TEC é também Visiting Researcher no TACC da UT Austin, destacou o impacto que este programa de mobilidade teve na sua carreira. “No TACC pude ter acesso a uma infraestrutura que, na altura, em 2022, não dispúnhamos em Portugal”, recorda a investigadora do INESC TEC, para quem a experiência se revelou não só importante do ponto de vista do seu trabalho científico, mas também em termos de evolução pessoal.

CoARA: os desafios da reforma da avaliação da investigação no contexto português

No último dia do encontro, 5 de julho, foi a vez de João Claro, presidente do INESC TEC, participar num debate sobre a CoARA (Colaition for Advancing Research Assessment) – uma aliança internacional que tem como objetivo implementar uma reforma sistémica da avaliação da investigação, dos investigadores e das organizações de investigação, a nível global. Recorde-se que em março deste ano, o INESC TEC, a CoARA, a FCT e a Science Europe promoveram o primeiro fórum de discussão desta aliança em solo português.

João Claro, juntamente com Eugénio Campos Ferreira (vice-reitor da Universidade do Minho) e Bruno Béu (Assessor do Conselho Diretivo da FCT), é copresidente do National Chapter português da CoARA. Coube aos três moderarem um painel de discussão sobre os próximos passos e planos de ação que as três instituições estão a seguir, no âmbito da aliança. No painel de oradores participaram Cecília Rodrigues, vice-reitora da Universidade de Lisboa, Claudio Sunkel, diretor do i3S, Eduardo Rosa, vice-reitor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e Tiago Santos Pereira, diretor do Centro de Estudos Sociais.

Nas palavras de João Claro, “o debate revelou consenso sobre vários fatores-chave de sucesso favoráveis ao avanço da avaliação da investigação. Estes incluem o reconhecimento do papel central da avaliação e do impacto dentro das nossas instituições, o forte alinhamento que existe entre os nossos princípios institucionais e os compromissos do Acordo sobre a Reforma da Avaliação da Investigação, e o pragmatismo do desafio que advém do compromisso com um plano de ação. Os próximos passos concretos identificados incluem, por exemplo, o mapeamento e o diagnóstico das práticas atuais e das melhores práticas, a implementação de projetos-piloto e o desenvolvimento de redes de embaixadores internos”.

Foram ainda discutidas questões como a promoção de práticas de ciência aberta, a superação da inércia institucional, a gestão das interdependências relacionadas com a mobilidade e a mutualidade na avaliação da investigação, a gestão eficaz das expectativas e a garantia de um compromisso realista de recursos e esforços de colaboração proporcionais aos desafios significativos que esta área enfrenta.

“No futuro, é crucial que traduzamos estas ideias em estratégias acionáveis, como parte de planos de ação sólidos que possam impulsionar um progresso significativo na reforma da avaliação da investigação, garantindo o seu impacto e sustentabilidade”, conclui o presidente do INESC TEC.

Atualmente, já fazem parte da CoARA 660 membros, pertencentes a 50 países. Foram já criados 12 capítulos nacionais e, em Portugal, são 22 os membros – 12 instituições de ensino superior, 9 centros de investigação e uma entidade financiadora.

Missão de Interface: da Ciência ao Mercado

À mesma hora que se discutia a reforma da avaliação para a investigação no contexto português, na Sala Arrábida, o debate era sobre o papel, cada vez mais relevante, que as instituições de interface – como o INESC TEC – têm tido na dinamização da inovação com base no conhecimento, com o objetivo de criar valor para a economia e para a sociedade.

José Carlos Caldeira, consultor da administração do INESC TEC – e anterior membro do conselho de administração da instituição -, foi um dos oradores desta sessão, organizada pela Agência Nacional de Inovação (ANI). Aqui, foi discutido o papel dos Centros de Tecnologia (CTI) – como o INESC TEC – e dos Laboratórios Colaborativos (CoLAB), no ciclo de inovação, foram partilhadas boas-práticas e tentou-se encontrar respostas para os desafios que se colocam à economia e à sociedade portuguesas, nomeadamente no âmbito da transição digital e da transição verde.

Hidrogénio Verde – necessidades industriais e novos desenvolvimentos tecnológicos

A participação em sessões temáticas, por parte do INESC TEC, deu-se por concluída na tarde do último dia. Abdelrahman Elhawash, investigador do INESC TEC na área de sistemas de energia, participou como orador numa sessão dedicada ao Hidrogénio Verde enquanto elemento-chave na estratégia global para a descarbonização de setores importantes da economia. A sessão, organizada pelo HyLab (Green Hydrogen Collaborative Laboratory), contou, para além do INESC TEC, com oradores da EDP Renováveis, REN, Galp, Bondalti, IST, FEUP, INEGI e LNEG, num esforço de alinhamento de visões da indústria e da ciência e tecnologia, potenciando, assim, o ecossistema de inovação nacional deste setor.

A mostra de ciência e tecnologia

Carlos Ferreira, investigador do INESC TEC e responsável pela parte de desenvolvimento de negócio das tecnologias ligadas à Saúde, foi o coordenador da mostra de ciência e tecnologia em que o instituto participou nos três dias do evento.

Desde dispositivos vestíveis – ligados à investigação do INESC TEC na área de engenharia biomédica -, a soluções de inteligência artificial para imagens médicas – relacionadas com o projeto CadPath – e textos clínicos – relacionados com resultados do projeto HfPT e a aplicação Physio -, o INESC TEC decidiu apresentar algumas das tecnologias para a saúde humana que tem vindo a desenvolver nos seus projetos de investigação. Além disso, aproveitando o tema “uma só saúde” do Ciência 2024, que inclui as perspetivas ambiental e animal, o INESC TEC contou também com o contributo dos investigadores ligados à área de robótica industrial, que apresentaram uma armadilha inteligente para a monitorização de pragas na agricultura.

Ainda no espaço da mostra de ciência e tecnologia, houve a possibilidade de os visitantes verem e-posters com apresentações de trabalhos. Também o INESC TEC submeteu este formato para visualização e discussão durante o evento.

As distinções

O histórico fundador do INESC, José Tribolet, recebeu, no Encontro Ciência 2024, a Medalha de Mérito Científico atribuída pelo Ministério da Educação. Ciência e Inovação. É importante realçar que a “A Medalha de Mérito Científico destina-se a galardoar as individualidades nacionais ou estrangeiras que, pelas elevadas qualidades profissionais e de cumprimento do dever, se tenham distinguido por valioso e excecional contributo para o desenvolvimento da ciência ou da cultura científica em Portugal”. A medalha, entregue por Madalena Alves, presidente da FCT, e por Francisco Santos, vice-presidente da mesma instituição, a José Tribolet, reconhece a sua importância no desenvolvimento da ciência e da investigação em Portugal, desde o início da década de oitenta do século passado até aos nossos dias, com uma contribuição decisiva para o nascimento do ecossistema INESC.

Créditos da foto: FCT

Ricardo Campos, investigador do INESC TEC, recebeu uma menção honrosa, juntamente com o seu aluno Rodrigo Dias da Silva, no dia 5 de julho, na entrega do Prémio Arquivo.pt. O investigador recebeu esta distinção, por parte da Associação DNS.PT, pelo trabalho de recuperação da história do jornal centenário Notícias da Covilhã. O trabalho intitulado “AquivoNC – o arquivo web do Jornal de Notícias da Covilhã” promoveu a utilização do Arquivo.pt como ferramenta de investigação e aprendizagem no contexto do projeto final da licenciatura em Engenharia Informática da Universidade da Beira Interior.

Os investigadores referidos na notícia têm vínculo ao INESC TEC, UP-FEUP, UP-FCUP e UBI.

 

 

 

 

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