Uma solução com selo INESC TEC irá facilitar o acesso a diagnósticos cardíacos em geografias em que chegar a cuidados especializados é mais difícil. Projeto arrancou este ano e está a trabalhar soluções de inteligência artificial.
É nos lugares do mundo onde o médico mais próximo pode estar a quilómetros de distância que as doenças cardiovasculares mais matam. Os números não mentem: 80% das mortes devido a problemas cardíacos acontecem em países em desenvolvimento.
E é a estas geografias que o INESC TEC quer chegar – para detetar e atuar. À boleia do projeto “PULSE -Reliable Pervasive mULti-Sensor cardiac Examination”, os investigadores do Instituto estão a desenvolver soluções inovadoras de inteligência artificial (IA) para a avaliação não invasiva da atividade eletromecânica do coração.
Estes métodos de IA e deep learning têm um grande potencial. Para além de reconhecerem padrões de doenças em sinais de som cardíaco e eletrocardiograma com grande precisão, dispensam a presença de um especialista – o que, em zonas remotas e rurais, é uma grande vantagem.
“Do ponto de vista da inovação tecnológica, o projeto pretende criar novos algoritmos de deep learning multimodal que sejam capazes de incorporar e explorar conhecimento fisiológico para melhorar a performance e desenvolver métricas de confiança e fiabilidade para os sistemas de IA aplicados à saúde”, indica Francesco Renna, investigador do INESC TEC.
A solução avançada pela PULSE fará uma análise combinada de três sinais fisiológicos: sons cardíacos (PCG), eletrocardiogramas (ECG) e fotopletismogramas (PPG). Mas como serão obtidos estes sinais? A resposta está em dispositivos de “baixo custo” – como estetoscópios digitais multimodais e wearables –, que facilitam a triagem precoce de doenças cardiovasculares e o acompanhamento de pacientes à distância. “Em especial em contextos com acesso limitado a cuidados especializados”, acrescenta o investigador.
O projeto arrancou oficialmente em julho, é liderado pelo INESC TEC e vai contar com a colaboração da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, da Unidade Local de Saúde de Gaia/Espinho, do Centro de Informática e Sistemas da Universidade de Coimbra da Universidade de Coimbra, e de parceiros internacionais no Brasil (Real Hospital Português, Recife) e em África (Carnegie Mellon University – Ruanda).
O PULSE representa ainda o capítulo mais recente da linha de investigação Multiscope do Instituto. Financiada ao abrigo de um programa de financiamento do INESC TEC que visa apoiar projetos internos, denominado Internal Seed Projects, a investigação, “está focada no rastreio de doenças cardiovasculares a partir da análise de sinais multimodais recolhidos com dispositivos não invasivos e de baixo custo através de soluções inovadoras de IA”.
“A inovação tecnológica do Multiscope consiste no desenho e no desenvolvimento de algoritmos de IA que automatizem o rastreio das doenças cardiovasculares a partir dos dados recolhidos pelo estetoscópio multimodal”, conclui Francesco Renna.
Há dois anos, em colaboração com a Carnegie Mellon University África (CMU África), e em articulação com parceiros clínicos, o INESC TEC recolheu dados cardíacos no Ruanda para detetar doenças cardiovasculares decorrentes de febre reumática.
O investigador mencionado na notícia tem vínculo ao INESC TEC e à UP-FCUP.