A observação e análise de dados de utilização do TikTok permitiu a investigadores do INESC TEC retirar algumas conclusões sobre as técnicas utilizadas nos conteúdos de âmbito político, assim como categorizar as publicações com resultados mais satisfatórios.
Vídeos curtos, músicas virais ou hashtags direcionados. São estes alguns dos truques usados pelos políticos portugueses na hora de publicar no TikTok, uma rede social com cada vez mais preponderância em Portugal. As conclusões surgem no decorrer de uma investigação do INESC TEC, em parceria com o jornal Expresso, e que mereceu destaque nas páginas do semanário no rescaldo das eleições legislativas de maio deste ano.
A investigação, assinada por Nuno Guimarães e Vítor Ferreira, teve como base os dados fornecidos pela própria rede social, através da sua API, permitindo a análise e cruzamento de forma mais rápida e eficaz. Para Nuno Guimarães, o trabalho possibilitou a desconstrução de algumas das técnicas usadas pelos partidos nesta rede social e ajudou perceber de que forma estas influenciam o sucesso dos conteúdos partilhados. No entanto, alerta, “não se deve partir para conclusões precipitadas, ou seja, dizer que a partir do TikTok é possível prever o resultado das eleições”.
Este trabalho, explica o investigador, permitiu perceber que, ao contrário de outras plataformas, o TikTok funciona “à base de vídeos curtos, poucas descrições e músicas que são trending para chegar aos utilizadores”. Ir à procura das trends parece ser mesmo o segredo, daí que o recurso a hashtags que garantam ao conteúdo destaque no separador For You – por exemplo, #fy ou #fyp – parece ser determinante para o sucesso de um vídeo. Neste separador, são exibidos vídeos ou fotos de contas que o utilizador não segue, mas que o algoritmo do TikTok sugere, com os dados que recolhe das preferências.
Para Nuno Guimarães, este parece ser um dos elementos diferenciadores do TikTok – e que pode potenciar o sucesso dos conteúdos relacionados com política: ao contrário das restantes plataformas, que tentam afinar algoritmos para apresentar aos utilizadores conteúdos em linha com os visualizados anteriormente, o TikTok parece arriscar mais, assumindo uma abordagem quase de “exploração”.
Esta diferença permitirá que um utilizador sem interesse manifesto em política, ou por uma corrente em concreto, seja confrontado com conteúdos deste âmbito. Estas características, defende o investigador na área de Inteligência Artificial e Apoio à Decisão, tornam também possível que um perfil pouco conhecido tenha mais facilidade em “viralizar” do que nas restantes plataformas.
Investigações como a que deram origem ao artigo publicado no semanário Expresso têm, para Nuno Guimarães, especial relevância devido ao “contributo que representam para a sociedade”, já que permitem às pessoas estarem “cientes do impacto” que as redes sociais podem ter nas eleições. “O objetivo é sempre informar os cidadãos. É importante passar informação fácil de digerir, para que os assuntos possam ser abordados de forma rápida e clara”, concluiu.
Os investigadores mencionados na notícia têm vínculo ao INESC TEC e à Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP).