Um grupo de investigadores do INESC TEC, da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e do Centro de Supercomputação de Barcelona analisou 46 tecidos de mais de 700 pessoas. A equipa concluiu que o tabagismo tem impacto na arquitetura dos tecidos e pode alterar molecularmente não apenas os órgãos associados de forma direta à inalação de fumo, como os pulmões, mas também tecidos de outros órgãos como o pâncreas, a tiroide, o esófago ou determinadas regiões do cérebro. Em muitos casos, os efeitos do tabagismo sobrepõem-se de forma significativa aos do envelhecimento.
Sabe-se que o tabagismo provoca 8 milhões de mortes todos os anos, que representa a principal causa de mortalidade evitável em todo o mundo e que aumenta o risco de desenvolvimento de muitas condições de saúde, sendo igualmente entendido como um acelerador do envelhecimento. Porém, quando se fala de consumo de tabaco não são ainda conhecidos todos os mecanismos moleculares que levam ao declínio da saúde e à aceleração do envelhecimento na maioria dos tecidos.
Neste contexto, um grupo de investigadores do INESC TEC e do Centro de Supercomputação de Barcelona analisou 46 tecidos de mais de 700 pessoas – fumadores, antigos fumadores e pessoas que nunca fumaram -, para avaliar o impacto genómico, epigenético e histológico do tabagismo em tecidos humanos. A equipa concluiu que fumar não só tem impacto na arquitetura destes tecidos, como desencadeia uma inflamação sistémica, e descobriu que, em muitos casos, os efeitos do tabagismo se sobrepõem significativamente aos do envelhecimento.
Além disso, identificou, por um lado, diferenças induzidas pelos hábitos tabágicos na expressão genética, splicing alternativo, metilação de ADN e arquitetura tecidual em todos os tecidos, e, por outro, os efeitos que estão simultaneamente associados ao tabagismo e ao envelhecimento. Assim, o consumo de tabaco pode alterar molecularmente não apenas os órgãos associados de forma direta à inalação de fumo, como os pulmões, mas também em tecidos de outros órgãos como o pâncreas, a tiroide, o esófago ou determinadas regiões do cérebro.
“Fizemos uma análise molecular multi tecidos e multi-ómica que fornece uma visão abrangente do impacto sistémico e específico por tecido do consumo de tabaco e de como este pode acelerar o envelhecimento no nosso corpo”, explica Pedro Gabriel Ferreira, investigador do INESC TEC e docente na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP).
Publicado na revista Genome Medicine, o estudo revela que o tabagismo induz alterações epigenéticas, nomeadamente uma hipermetilação generalizada – um mecanismo que pode silenciar genes e alterar a função celular, estando associado a diversas doenças, incluindo o cancro. Em termos epigenéticos, os perfis dos fumadores tornam-se semelhantes aos de pessoas mais velhas, uma vez que estas modificações se alinham com processos de envelhecimento já bem caracterizados. Em suma, o impacto molecular do tabaco nos tecidos humanos imita os efeitos do envelhecimento.
A equipa recorreu a dados do projeto Genotype-Tissue Expression (GTEx), que incluem informações sobre fumadores, antigos fumadores e pessoas que nunca fumaram e classificou as alterações associadas ao tabagismo como reversíveis ou irreversíveis. Desta análise, os investigadores perceberam que existem alterações moleculares induzidas pelo tabaco que não são reversíveis após a cessação e que essas são especialmente as que se sobrepõem ao envelhecimento.
“Os resultados do nosso estudo aumentam o conhecimento sobre a forma como o tabagismo contribui para a disfunção tecidual e o risco de doenças a longo prazo”, realça Rogério Ribeiro, investigador do INESC TEC e estudante de doutoramento em Ciência de Computadores na FCUP. Além disso, explica, destacam biomarcadores moleculares que podem ajudar a fazer avaliações de risco personalizadas, desenhar estratégias de prevenção direcionadas e desenvolver intervenções baseadas em epigenética, para mitigar o declínio induzido pelo tabagismo.
Os investigadores mencionados na notícia têm vínculo ao INESC TEC e à UP-FCUP