Portugal na linha da frente com nova tecnologia para medir gás radão e melhorar as projeções climáticas globais

Durante quatro anos o INESC TEC vai liderar um consórcio internacional de 2,6M€ que tem como objetivo utilizar técnicas avançadas de medição da radioatividade ambiental. Espera-se que em 2028 existam novas soluções tecnológicas capazes de melhorar quer a investigação climática – principalmente no que à estimativa das emissões de gases de efeito de estufa diz respeito – quer a proteção radiológica da população e do meio ambiente.

Chama-se NUCLIM (acrónimo de Nuclear observations to improve Climate research and GHG emission estimates – na versão original – e “Observações nucleares para melhorar a investigação climática e as estimativas de emissões de Gases com Efeito de Estufa”, na versão portuguesa) e reúne um consórcio de oito entidades que vão desenvolver uma campanha detalhada de monitorização ambiental na estação ENA, localizada na ilha Graciosa, nos Açores. Assim, nesta ilha, os investigadores vão poder medir os níveis de radioatividade na atmosfera e a concentração de dióxido de carbono e metano.

“Estas observações vão ser utilizadas para identificar as massas de ar marítimo menos influenciadas por efeitos terrestres, e quantificar a concentração de gases com efeito de estufa nessas condições, fornecendo um nível de referência a montante para as emissões europeias”, explica Susana Barbosa, investigadora do INESC TEC e coordenadora do projeto.

Os desafios e pioneirismo português

“A medição de gás radão no meio oceânico é um desafio significativo, devido à sua baixa concentração em comparação com os valores encontrados em terra, tipicamente duas ordens de grandeza abaixo do limite de deteção dos instrumentos disponíveis no mercado”, sublinha a investigadora.

No entanto, este obstáculo vai ser ultrapassado pela equipa do INESC TEC que, em colaboração com a organização australiano ANSTO (Australia’s Nuclear Science and Technology Organisation) adquiriu uma nova tecnologia capaz de medir, com elevada precisão, a concentração de gás radão na atmosfera do Atlântico, tornando Portugal um dos primeiros países do mundo a utilizar este instrumento.

“A instalação deste equipamento nos Açores, no âmbito do projeto NUCLIM, com a medição simultânea de gases com efeito de estufa, é um avanço significativo para a monitorização climática, permitindo complementar as observações já existentes no Observatório de Mauna Loa, no Pacífico Norte, com as novas observações na ilha Graciosa, no Atlântico Norte”, explica Susana Barbosa.

O impacto destes avanços científicos na sociedade

O gás radão está presente em qualquer local à superfície da terra e tem (??) características únicas, na medida em que é simultaneamente um elemento radioativo e um gás nobre, o que fazem dele um indicador atmosférico único.

Ao fazerem medições atmosféricasde gás radão nos Açores, a equipa do projeto NUCLIM vai melhorar o conhecimento da atmosfera marinha, que desempenha um papel crucial no clima, já que a maior parte da superfície do planeta está coberta por água.

“Os dados recolhidos no projeto vão fornecer informação valiosa para estudos climáticos, melhorando a compreensão do papel dos aerossóis, nuvens, e mesmo organismos biológicos (comunidades planctónicas) na atmosfera marinha, e contribuindo para a redução da incerteza nas projeções climáticas globais”, destaca a investigadora do INESC TEC.

A concentração atmosférica de gás radão permite identificar, de forma objetiva, as massas de ar marinho menos poluídas, e assim obter valores de referência para as concentrações de gases com efeito de estufa, fornecendo um nível de referência variável no tempo para as emissões europeias de emissões de gases com efeito de estufa, e melhorando a distinção entre emissões e concentrações naturais.

A interligação entre clima e radioatividade abordada no projeto vai também permitir melhorar protocolos de radioprotecção e vigilância nuclear, ao aprofundar o conhecimento sobre a influência da atmosfera na radioatividade ambiental, o que vai permitir um melhor ajuste dos níveis de alarme utilizados nas redes de monitorização para fins de proteção radiológica e prevenção de acidentes nucleares.

A reunião de arranque do NUCLIM

A abertura oficial do projeto aconteceu entre os dias 30 de setembro e 2 de outubro, nos Açores, num evento organizado pela Universidade dos Açores, um dos parceiros do projeto. Para além do INESC TEC e da Universidade dos Açores, estiveram presentes nesta primeira reunião do consórcio os restantes parceiros: Finnish Meteorological Institute (Finlândia), Horia Hulubei National Institute for R&D in Physics and Nuclear Engineering (Roménia), Physikalisch-Technische Bundesanstalt (Alemanha), National University of Ireland Galway (Irlanda), University of Helsinki (Finlândia) e University of Lodz (Polónia). O NPL e a Universidade de Bristol são parceiros associados do projeto.

O INESC TEC, para além de coordenador e gestor do projeto, é também a entidade responsável pela medição da concentração atmosférica de gás radão na ilha Graciosa e pela gestão dos dados do projeto, incluindo o plano de gestão de dados e a consolidação de todos os dados recolhidos no projeto.

A equipa de investigadores do INESC TEC no NUCLIM pertence a diferentes áreas científicas da instituição e é composta por: Susana Barbosa – da área da robótica e sistemas autónomos e ainda da computação gráfica -, João Castro – na gestão dos dados -, Maria Eduarda Silva – na área da inteligência artificial -, e Nuno Dias, também na área da robótica e sistemas autónomos.

Este projeto surge no seguimento de uma campanha de monitorização de radiação gama que está a ser efetuada pelo INESC TEC, desde 2015, na ilha Graciosa, e cujos dados estão disponíveis, em formato open source, no repositório da instituição, aqui.

Os investigadores mencionados na notícia têm vínculo ao INESC TEC.

 

 

 

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