160 – este é o número de infraestruturas críticas atualmente existentes em Portugal. Da energia, às telecomunicações, passando pelos transportes ou pelo abastecimento de água, são vários os sistemas, ativos e redes que são essenciais para o funcionamento da sociedade e da sua economia. Que ameaças afetam estas infraestruturas? Qual o impacto de uma falha ou de um ataque a uma delas? Como se garante a sua segurança e resiliência? Estas foram algumas das questões discutidas na nona edição do Fórum INESC TEC do Outono.
O INESC TEC voltou a desafiar a academia, a indústria e a administração pública para, no encontro de ideias que é o evento Fórum do Outono, refletir sobre a segurança e a resiliência das infraestruturas críticas – um “debate importante e essencial”, como descreveu João Claro, na sessão de encerramento do evento. Mas, comecemos pelo início.
Após a sessão de abertura, a cargo de Pedro Guedes de Oliveira, coordenador da Comissão Organizadora do evento, Rui Calçada, Diretor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, e Pedro Rodrigues, Vice-Reitor da Universidade do Porto, os participantes puderam assistir a uma intervenção de Ben Kutcha, Diretor do Grupo para a resiliência e Gestão de Crises na National Grid, Reino Unido, sobre o futuro da energia considerando a transição energética – um processo que acarreta grandes desafios inerentes à produção de energia a partir de fontes renováveis e à sua distribuição.
Através do exemplo do trabalho desenvolvido na National Grid, Ben Kutcha abordou a capacidade de prever eventos disruptivos e de otimizar a resposta a esses eventos, destacando a importância dos dados no desenvolvimento de modelos que ajudem na previsão, resolução e mitigação desses riscos. O orador reforçou a importância de haver colaboração entre as empresas, que devem identificar os riscos, e a academia, que pode desenvolver os modelos de previsão e as metodologias de resposta a eventos disruptivos.
A segunda intervenção convidada do Fórum INESC TEC do Outono esteve a cargo de José Oliveira, Vice-Presidente do Conselho Nacional de Planeamento Civil de Emergência, que explicou não só que a pandemia e as guerras vieram evidenciar os efeitos em cascata da interdependência em diversos setores e as fragilidades em cadeias de abastecimento, como reconheceu que Portugal está exposto a riscos naturais, nomeadamente sismos, contando que existem, no país, 160 infraestruturas críticas.
Também os riscos relacionados com a cibersegurança têm aumentado, pelo que se torna premente o desenvolvimento de competências para prever e planear ações para minimizar os efeitos desses riscos. Nesta intervenção, foi ainda dada uma perspetiva sobre a forma como a nível nacional, europeu e internacional, através da NATO, se organiza a gestão e segurança de infraestruturas críticas.
As comunicações, a energia elétrica e a cibersegurança
O primeiro painel de discussão do evento foi dedicado às infraestruturas físicas tecnológicas, com a participação de João Beleza Vaz (ANACOM), Miguel Freitas (E-REDES) e Lino Santos (Centro Nacional de Cibersegurança) e moderação de Clara Gouveia, Administradora do INESC TEC. Ao longo da discussão, falou-se sobre os riscos a que estas infraestruturas tecnológicas estão sujeitas, desde logo o envelhecimento de ativos, a integração de renováveis, a cibersegurança, ou os riscos de contexto geopolítico, no caso dos cabos submarinos, com exemplos de ataques perpetrados a setores como o da energia ou das comunicações.
Entre as principais conclusões deste painel, destaca-se a necessidade de haver um mapeamento global e holístico entre os diversos setores para uma coordenação, a nível nacional, de gestão de situações de crise, uma aposta na formação das equipas que trabalham diretamente com as questões de manutenção, prevenção e segurança, e uma consciencialização da sociedade civil em relação aos alertas de risco. O painel reforçou ainda a importância de se implementar o quadro legal atualmente vigente com uma visão sistémica, apoio tecnológico e incremento da cultura de segurança.
Espaço aéreo, abastecimento de água, redes rodoviárias e ferroviárias
Num momento que juntou Joaquim Geraldes (NAV Portugal), Gonçalo Nuno Mendes (AdP Valor) e Hugo Patrício (Infraestruturas de Portugal) falou-se sobre as infraestruturas físicas, com destaque para a sua resiliência. Moderado por Teresa Sá Marques, docente na FLUP, o painel discutiu a forma como, apesar de em áreas diferentes e com estratégias de resiliência distintas, as empresas têm um denominador comum: o normal funcionamento do serviço, o normal funcionamento das cadeias de fornecimento e a mitigação de eventos críticos, sejam pandemias, envelhecimento das infraestruturas, terrorismo ou eventos climáticos adversos.
Algumas das conclusões deste painel prendem-se com a importância de reter talento nas organizações, com vista à implementação de estratégias de segurança e resiliência; a relevância da cooperação com entidades municipais, por exemplo; e a existência de políticas nacionais, regionais e europeias – no caso do controlo aéreo bem definidas e normalizadas – que têm permitido otimizar serviços e evitar a perda de qualidade dos mesmos em situações de crise.
“Riscos são cada vez mais complexos e estão em permanente evolução”
Na sessão de encerramento da nona edição do Fórum INESC TEC do Outono, João Claro reforçou a qualidade das intervenções realizadas ao longo do evento, que permitiram “entender um cenário complexo e entender quais são os principais progressos organizacionais, no domínio público e de ciência e tecnologia, que constituem as grandes oportunidades e desafios para o setor”. Segundo o Presidente do Conselho de Administração do INESC TEC, o Fórum do Outono proporcionou “um debate importante, essencial sobre a resiliência e segurança das infraestruturas críticas”, trazendo à reflexão “um tema de uma relevância e urgência bem afirmadas e crescentes, que é o tema da salvaguarda das nossas infraestruturas críticas”. Nas palavras de João Claro, trata-se não só de uma questão de segurança nacional, mas de um pilar fundamental da resiliência da economia, da saúde e bem-estar das populações e da própria estabilidade da sociedade.
Em jeito de conclusão, o responsável destacou três aspetos: “proatividade, colaboração e conhecimento”. Proatividade na capacitação e preparação estratégica, pois “os riscos são cada vez mais complexos e estão em permanente evolução”; a colaboração através da combinação de recursos entre o setor público e empresarial, e uma abordagem coesa e multinível, já que, por exemplo, as “perturbações numa região podem ter repercussões para lá das suas fronteiras”; o conhecimento através do contributo das instituições de ensino e de ciência, que trabalham na fronteira do conhecimento em áreas como Inteligência Artificial, Cibersegurança ou Design de Infraestruturas Críticas e que podem contribuir não só no desenho de estratégicas de resiliência, previsão e mitigação de riscos, como na melhoria de políticas públicas.
Ficou ainda a promessa de voltar a desafiar os atores dos vários setores da sociedade a reunirem-se em 2025, para a décima edição do Fórum do Outono, no ano em que se assinalam os 40 anos do INESC TEC.
O evento reuniu mais de 200 participantes, teve lugar no dia 12 de novembro, na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e pode ser revisto no canal de YouTube do INESC TEC.
O investigador do INESC TEC mencionado na notícia tem vínculo à UP-FEUP.