Qual o futuro da liderança no I&D na era da Inteligência Artificial?

O mote foi lançado – qual o futuro da liderança no I&D na era da Inteligência Artificial? – e o apelo foi respondido por mais de 60 pessoas. De administradores, a gestores, investigadores e até policymakers, a discussão decorreu em Bruxelas, numa iniciativa organizada pelo INESC Brussels Hub, em colaboração com a Comissão Europeia e o NCBR Office em Bruxelas.

Espera-se que, já num futuro muito próximo, a Inteligência Artificial (IA) venha a reconfigurar a forma como a liderança no I&D é feita e, por isso, é urgente debater a forma como a integração da IA deve ser feita, em consonância com as práticas de investigação e desenvolvimento. Mas esta discussão não pode ser feita sem a participação dos líderes europeus. Foi, nesse âmbito, que Signe Ratso, Diretora Geral Adjunta da Direção Geral de Investigação e Inovação da Comissão Europeia (CE), marcou presença e deu alguns números, nomeadamente sobre o facto de 60% das atuais publicações em AI serem relativas a aplicações em ciência e da urgência que a União Europeia enfrenta em diminuir o fosso que atualmente a separa da China e dos EUA, no que à IA diz respeito.

Para que a discussão seja frutífera há três lados a ouvir: de quem faz política, de quem trabalha na indústria e de quem investiga. Nesse sentido, outra presença por parte da Comissão Europeia foi a de Liviu Stirbat, responsável pela unidade de IA na Ciência na Direção Geral de Investigação e Inovação da CE, que apresentou a evolução que a Inteligência Artificial tem vindo a ter na União Europeia, salientando o caminho percorrido na garantia de uma utilização responsável e segura da AI na ciência. Em março de 2024, por exemplo, a Comissão Europeia publicou uma série de orientações para apoiar a comunidade de investigação europeia num uso responsável da IA generativa (aqui). Além disso, o responsável reforçou também a importância de iniciativas de ciência aberta, como o European Open Science Cloud (EOSC) para o desenvolvimento da IA.

A visão da indústria foi dada por Ondrej Socuvka, da Google, que explicou que os cientistas da empresa têm explorado os limites da Inteligência Artificial de forma corajosa e responsável, impulsionados por um esforço coletivo da comunidade científica. Esta abordagem colaborativa promove não só a inovação, como também garante que o desenvolvimento da IA está em conformidade com os mais elevados padrões de segurança e responsabilidade. A visão da ciência foi dada por Ricardo Miguéis, responsável pelo INESC Brussels Hub, que explicou que para que a IA tenha uma importância estratégica na competitividade europeia, é necessário que olhemos para ela como um dos principais motores de inovação, com impacto económico e benefícios societais.

Mas a realidade é que a discussão ainda vai a meio e há muitas perguntas que precisam de ser feitas, nomeadamente: quais os principais desafios enfrentados na integração de IA com práticas de gestão de liderança no I&D?; como está a ser percebido pelos gestores o papel da AI na alteração daquilo que poderá ser a liderança no I&D?; e qual é, de facto, o papel que os policymakers devem ter na facilitação da integração de AI no I&D? Dirk Stockmans e Oliver Kozak, que serviram como facilitadores destas discussões, lançaram as questões para que todos pudessem refletir, discutir e delinear estratégicas práticas que ajudem, de facto, as lideranças a derrubar obstáculos e enfrentar os desafios que aí vêm – sobretudo considerando o ritmo de evolução que esta tecnologia tem registado.

Os dados foram lançados e muitas ideias discutidas. Da parte do INESC TEC, de destacar as intervenções de João Claro, presidente do Conselho de Administração, Lia Patrício, administradora, e Ana Nunes Alonso, investigadora. João Claro e Ana Nunes Alonso foram, aliás, responsáveis por dinamizar dois dos oito grupos de trabalho que houve para discussão das principais tendências, desafios e oportunidades da AI na liderança em I&D.

No grupo liderado pela investigadora do INESC TEC, Ana Nunes Alonso, a discussão centrou-se na necessidade urgente de promover a literacia sobre AI de forma a educar quer as gerações mais novas, que já lidam no seu quotidiano com AI mesmo que não tenham essa perceção, quer gestores e cientistas, que poderão, dessa forma, por exemplo, integrar e utilizar ferramentas de IA nas suas atividades Seguindo essa linha de pensamento, Lia Patrício debruçou-se sobre a importância de conceitos como o citizen engagement, para que os vários stakeholders da sociedade sejam chamados a participar ativamente na discussão.

Os resultados deste evento, que representou mais uma das várias ações que o INESC TEC tem no âmbito das políticas públicas, vão agora ser debatidos junto da Comissão Europeia para que possam ser trabalhados em conjunto.

Os investigadores referidos na notícia têm vínculo ao INESC TEC, à UP-FEUP e à U. Minho.

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