Por Diana Viegas, investigadora sénior do Centro de Robótica e Sistemas Autónomos (CRAS)
No mês em que se comemora o Dia Mundial dos Oceanos, impera uma reflexão sobre a sua importância e como devemos fazer uma gestão sustentável dos seus recursos para garantir um futuro próspero e resiliente para as gerações vindouras.
Os oceanos, que cobrem mais de 70% da superfície do planeta, são uma linha de vida indispensável para a vida na Terra, e um recurso inestimável que sustenta a saúde do nosso planeta, apoia a biodiversidade, regula o clima e presta serviços vitais à humanidade. No entanto, os oceanos enfrentam uma série de desafios, como a pesca excessiva, a poluição, as mudanças climáticas e a degradação dos habitats costeiros.
A robótica desempenha um papel crucial na avaliação e preservação dos serviços ecossistémicos e dos ecossistemas marinhos, permitindo o acesso a áreas remotas e hostis que seriam difíceis ou perigosas para os seres humanos. O Centro de Robótica e Sistemas Autónomos (CRAS) do INESC TEC tem vindo a desenvolver diversos tipos de sistemas robóticos capazes de ser utilizados em diversos cenários com impacto direto nos serviços ecosisstémicos marinhos.
Temos desenvolvido vários projetos que têm um impacto direto na avaliação destes serviços ecossistémicos e, consequentemente, na monitorização dos oceanos e dos seus ecossistemas.
Os estudos de biodiversidade são fundamentais para avaliação atual dos recursos ecossistemicos. Robôs submarinos podem ser usados para recolher amostras biológicas, como organismos marinhos, sedimentos e água. Essas amostras permitem a análise da biodiversidade marinha, a identificação de espécies ameaçadas e a compreensão dos padrões ecológicos. O projeto MarinEye tem contribuído para esta linha de trabalho e a sua componente de recolha de amostras biológicas tem suscitado muito interesse por parte da comunidade científica. Deste modo houve um esforço por parte do Centro de Robótica e Sistemas Autónomos do INESC TEC em otimizar o sistema de amostragem biológica e recolha de ADN.
Numa outra vertente foi também desenvolvido no INESC TEC um sistema de captura e conservação de espécies até 1000 metros de profundidade. Esta solução permite trazer as espécies à superfície sem danos provocados pelas diferenças de pressão, e mantê-las vivas para estudos posteriores. As componentes desenvolvidas incluem uma infraestrutura móvel hiperbárica que permite a recolha de organismos vivos no mar profundo em condições de elevada pressão, baixa temperatura (ou extremamente elevada, no caso de proximidade a vulcões ativos ou fontes hidrotermais) e reduzida luminosidade, e uma infraestrutura que permite a sua transferência para uma outra câmara hiperbárica, que irá mimetizar à superfície o ambiente do fundo do mar nos parâmetros físicos relevantes para a manutenção da vida das espécies e funcionando como um aquário. O sistema contém componentes que controlam os parâmetros químicos que favorecem a vida dos organismos dentro do sistema hiperbárico, assim como, por exemplo, a pressão, a temperatura, a luz, o alimento, a corrosão e a salinidade. Com o projeto HIPERSEA[1] foi possível criar um sistema de recolha e manutenção, em cativeiro e a sua manutenção em boas condições fisiológicas, que permitirá o aumento do conhecimento do ciclo de vida e da biologia de animais marinhos de profundidade.
Um outro grande projeto que iniciou recentemente, mas que terá grande impacto na comunidade científica e sociedade, é o projeto TRIDENT. Neste projeto está proposto o desenvolvimento de tecnologia de profundidade para avaliação do impacto ambiental de operações de mar profundo. Sabemos que o oceano é uma fonte de recursos muito pouco explorada sejam eles biológicos ou não. No entanto, temos consciência que essa exploração poderá ter impacto nos ecossistemas e como tal este sistema de avaliação de impacto ambiental é crucial para avaliar se a exploração dos recursos marinhos é ou não viável. No final o projeto desenvolverá uma infraestrutura dinâmica inovadora para posicionamento, navegação, comunicação e construção de conhecimento, em tempo real, de sistemas de mineração e monitorização; desenvolver um laboratório móvel inovador e de alta tecnologia que possa ser facilmente transportado para o trabalho em ambiente de operação real e desenvolver uma estrutura de governança holística para a exploração sustentável dos recursos oceânicos da Europa.
Os oceanos são a força vital do nosso planeta, influenciando tudo, desde o clima à biodiversidade, à segurança alimentar e à prosperidade económica. A necessidade urgente de uma utilização sustentável dos recursos oceânicos não pode ser exagerada. Ao adotar práticas sustentáveis, conservar os ecossistemas marinhos e promover a cooperação internacional, podemos proteger e preservar este recurso inestimável. Juntos, vamos lutar por um futuro em que os oceanos prosperem, garantindo um planeta resiliente e um futuro próspero para todos.
[1] Viegas, Diana, et al. “Collection And Life Support In A Hyperbaric System For Deep-Sea Organisms.” OCEANS 2021: San Diego–Porto. IEEE, 2021.
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