A Inteligência Artificial daqui a 10 anos

Por Nuno Moniz e João Vinagre, investigadores do Laboratório de Inteligência Artificial e Apoio à Decisão.

É comum atribuir o nascimento do conceito Inteligência Artificial ao workshop ocorrido na Universidade de Dartmouth no verão de 1956, o Dartmouth Summer Research Project on Artificial Intelligence. A proposta do evento, do ano anterior, avançava que um dos seus objetivos primários seria perceber se um ou todos os aspetos de aprendizagem humana poderiam ser descritos e simulados por máquinas. Apesar do reservado sucesso, este evento lançou um percurso com mais de 70 anos e contribuiu decisivamente para a evolução do conceito para campo de investigação.

Desde o seu aparecimento, nunca faltou quem lhe garantisse um grandioso futuro, como o de máquinas que viriam a substituir o trabalho manual e intelectual de humanos. Sem dúvida, mais do que um cenário hipotético provocante, este é um debate crucial e atual, com implicações sérias na organização laboral, um ponto estruturante das nossas relações interpessoais e da própria sociedade. Mas, talvez por recorrentemente ser apresentada como apenas um cenário hipotético, é comum incorre-se num rodopio de deslumbre, apenas permitido pela nossa (comum) falta de competências formais de análise social e política. A verdade é que a grande maioria de nós não foi formada para tal, temos desculpa.

A variante mais comum destas declarações-propaganda é a de vaticinar o que a Inteligência Artificial possibilitará no futuro. A verdade é que ninguém consegue garantir qual será o grau de maturidade desta daqui a 10 anos. Muito menos, qual será a sua capacidade daqui a 25 anos ou uma geração. De uma forma geral, sempre que é feita uma antevisão do que a Inteligência Artificial fará no futuro, há bons motivos para desconfiar. Não por qualquer questão pessoal para com o emissor, mas porque todos os anteriores erraram. Todas as antevisões nesta área têm pelo menos um problema em comum: partem do princípio de que a evolução de coisas que envolvem relações sociais, como aptidões humanas, assim como o desenvolvimento e compreensão científica, podem ser antecipadas a médio e longo prazo. Especialmente as antevisões que proclamam a substituição de tarefas físicas e intelectuais por parte de sistemas com base em Inteligência Artificial. Em regra, olham para o trabalho, e já agora para uma sociedade, como algo estanque, desprovido de capacidade de se adaptar e evoluir. Se há algo que podemos afirmar, mesmo vindo de alguém sem formação específica nas ciências sociais e políticas, é que a constante de toda a história é que, associadas aos avanços tecnológicos, surgem sempre alterações económicas, sociais e políticas complexas e imprevisíveis.

Para que não fique sem resposta, a desconfiança e receio de franjas da população em relação ao impacto que a Inteligência Artificial pode ter nas suas vidas já hoje, assim como no futuro, é justificada. É verdade que soluções com base em Inteligência Artificial têm o potencial para substituir tarefas que até agora são da exclusiva responsabilidade de humanos. Mas, também é verdade que o caminho que hoje trilhamos é mais focado na coexistência e colaboração entre humanos e sistemas inteligentes. Não obstante, a perspetiva de um futuro em que a automação possa ter um impacto considerável nas perspetivas de emprego de uma geração inteira, provavelmente mais envelhecida e com pouca formação superior, é algo a ponderar e preparar. Aliás, é a única aparente virtude dos exercícios de antevisão do futuro da Inteligência Artificial: dar-nos tempo para pensar e preparar.

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