Por Renan Tosin, Assistente de Investigação do Centro de Robótica Industrial e Sistemas Inteligentes (CRIIS)
Em 12 de outubro é comemorado o Dia do Engenheiro Agrônomo, um marco para reconhecer e valorizar o impacto inestimável dessa profissão na moldagem das sociedades em todo o mundo. A agronomia, com sua rica história e relevância, continua a ser um pilar fundamental no fornecimento de alimentos e no avanço das comunidades. Desde os primeiros aquedutos construídos pelos predecessores dos engenheiros agrónomos, até as soluções tecnológicas modernas, o engenheiro agrónomo tem sido a força motriz na missão vital de nutrir a humanidade.
A minha jornada na agronomia começou em 2011, quando ingressei no curso de Agronomia na Universidade Estadual Paulista (UNESP) em Botucatu, Brasil. Impulsionado por uma inata curiosidade científica e pelo desejo de causar um impacto significativo na ciência agrícola, mergulhei de cabeça em projetos de investigação desde os primeiros anos de estudo. Uma dessas experiências pioneiras foi a investigação que colaborei sobre o impacto das densidades de sementeira e geometria no crescimento da soja, despertando, assim, meu interesse pela investigação científica nesse campo.
Em 2013, meu percurso académico me levou à University of Adelaide, na Austrália, onde fui exposto a novas práticas agrícolas e culturais, distintas daquelas que eu conhecera no Brasil. Foi nesse período que fui apresentado ao mundo fascinante da viticultura, um encontro que desencadeou em mim uma paixão particular pela complexidade da cultura da videira e suas nuances.
Posteriormente, em 2015, me mudei para Portugal, onde intensifiquei meu envolvimento com a investigação e com o setor vitivinícola. Concluí minha licenciatura em Engenharia Agronómica no Instituto Politécnico de Bragança, uma experiência que ampliou significativamente meu conhecimento sobre diversas práticas agrícolas e fortaleceu ainda mais meu vínculo com a viticultura.
À medida que prossegui com meus estudos, fiz minha residência académica na cidade do Porto, onde obtive meu mestrado em Engenharia Agronómica pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Durante esse período, tive o privilégio de colaborar com o Professor Mário Cunha, cuja orientação e experiência me permitiram explorar os sensores óticos e iniciar meu envolvimento com a agricultura de precisão. Participar ativamente de projetos como WineSpectra e VineSpec fortaleceu ainda mais minha convicção sobre a importância da implementação de tecnologias inovadoras para aprimorar a eficiência do uso da água e da sustentabilidade no setor vitivinícola.
No âmbito do meu doutoramento em Ciências Agrárias, atualmente em fase de conclusão pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, mantenho-me profundamente envolvido como membro ativo da equipa do CRIIS, mais especificamente do TRIBE LAB. Nesse contexto, estou concentrado no desenvolvimento de tecnologias inovadoras voltadas para uma agricultura mais sustentável. Minha participação em projetos como Metbots e SpecTOM tem proporcionado contribuições substanciais para o avanço de soluções tecnológicas de ponta, incluindo o desenvolvimento de sensores espectrais de baixo custo e sistemas de tomografia para deteção de doenças em plantas e maturação dos tecidos internos das uvas.
No âmbito do projeto Metbots, estive diretamente envolvido na realização de medições do potencial hídrico de base nas vinhas, uma tarefa extremamente laboriosa. Além disso, meu papel incluiu a aquisição de espectros das folhas e uvas para análises e modelação a fim de estudar variáveis biofísicas como estado hídrico da videira e teor de açúcares nas uvas, com base na informação espectral coletada. Como parte desse projeto, colaboramos para acoplar o sensor desenvolvido no CRIIS a um braço robótico, a fim de automatizar a amostragem dessa informação espectral. Nosso objetivo é mapear com alta precisão as áreas vitivinícolas para promover um controlo mais preciso na gestão das práticas culturais, como rega e poda, garantindo assim uma gestão mais eficiente dos recursos naturais.
Por outro lado, no âmbito do projeto SpecTOM, expandimos ainda mais as fronteiras da aplicação da tecnologia. Utilizamos sensores óticos para deteção precoce de bactérias em folhas de tomateiro e para um estudo detalhado dos tecidos internos das uvas. Sob a liderança do Dr. Rui Martins, nossa equipa desenvolveu uma patente derivada desses esforços. O projeto SpecTOM nos proporcionou uma nova visão sobre a fenotipagem de culturas em campo, permitindo-nos combater precocemente o desenvolvimento de patógenos e obter dados precisos sobre a maturação dos diferentes tecidos da uva. Além disso, monitoramos de perto como as propriedades edafoclimáticas influenciam na maturação das uvas, o que, por sua vez, nos permite realizar uma gestão mais eficaz das práticas culturais, incluindo poda, rega e vindima.
No projeto Omicbots, que representa a aplicação dos outputs obtidos nos projetos anteriores, trabalhamos em conjunto com uma equipa multidisciplinar. Nosso objetivo é integrar a multiômica, a fotónica inteligente e a robótica na biologia de sistemas, permitindo que a indústria vitivinícola incorpore tecnologias avançadas, como a inteligência artificial, em seus sistemas de cultivo. A integração da inteligência artificial nesses sistemas é fundamental para aumentar a produtividade e a qualidade nutricional das culturas, garantir o uso eficiente da água e tornar as culturas mais resilientes em face das condições ambientais variáveis, enquanto monitoramos o estresse biótico e abiótico de forma precisa e eficiente.
Os projetos nos quais estou envolvido representam apenas o começo de uma nova era na agricultura de precisão. Embora seja uma área em constante evolução, é vital continuar a explorar e aprimorar essas técnicas, garantindo que sejam viáveis e acessíveis para a indústria agrícola. Encorajo fortemente os jovens a se interessarem por esse campo promissor e desafiador, pois a demanda por soluções inovadoras e sustentáveis continuará a crescer.
Olhando para o futuro, prevejo uma integração ainda maior de tecnologias de ponta, como aprimoramentos na inteligência artificial, na nanotecnologia e na biotecnologia, na agricultura. Essas inovações revolucionárias nos permitirão enfrentar desafios ainda mais complexos, como mudanças climáticas extremas, escassez de recursos e demandas crescentes por alimentos. Acredito firmemente que os engenheiros agrónomos terão um papel central nesse processo, liderando a implementação de práticas sustentáveis e a aplicação de tecnologias de vanguarda para garantir a produção alimentar global e o equilíbrio ambiental. Assim como os aquedutos do passado, esses avanços tecnológicos serão lembrados como marcos cruciais na história da agricultura e no desenvolvimento da humanidade.