Transformação Digital: um desafio para as PMEs nacionais

Por Daniela Sofia Silva (investigadora) e Pedro Senna (assistente de investigação), do Centro de Engenharia de Sistemas Empresariais (CESE)

Embora o conceito de “Indústria 4.0” já exista desde 2011, a realidade é que o tema da Transformação Digital ganhou verdadeira relevância e foi “trazido para cima da mesa” recentemente, muito devido às dificuldades sentidas durante a pandemia COVID-19. De facto, a Transformação Digital é uma das três dimensões estruturantes do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), com uma componente “Empresas 4.0” que pretende “reforçar a digitalização das empresas e recuperar o atraso face ao processo de transição digital”, com um orçamento de 650M€. 

Mas o que representa tudo isto para as PMEs portuguesas? 

Trabalhando há alguns anos nesta área, com um Modelo de Avaliação de Maturidade Digital desenvolvido internamente, o CESE tem um contacto muito próximo com a realidade industrial. Num dos projetos em curso, que pretende precisamente capacitar as indústrias da região do Entre Douro e Vouga para a Transformação Digital, concluímos que apenas 12,5% das empresas desta região se encontram na primeira fase da indústria 4.0. Por outro lado, 48,5% das empresas estão a dar os “primeiros passos” no mundo digital, o que frequentemente significa passar do papel para um documento PDF. Estes números apresentam a necessidade de um esforço acrescido por parte das empresas, que podem ser contornados através de mecanismos de apoio ao investimento no âmbito do PRR. 

A Transformação Digital apresenta vários desafios, que podem ser identificados através de análise da maturidade digital em seis dimensões: Cultura e Pessoas, Estratégia, Governança e Processos de Negócio, Tecnologias e Sistemas de Informação, Processos e Operações, Produtos e Serviços e Contexto, Mercado e Regulação. À partida, a maioria das empresas não tem ainda uma estratégia digital definida, resultando muitas vezes na implementação isolada de tecnologias específicas, negligenciando projetos estruturantes. Para muitas das empresas que já têm alguma estratégia delineada, os maiores obstáculos são a falta de mão de obra qualificada e a falta de conhecimento de como tirar partido dos apoios disponíveis. Mas não só: a falta de envolvimento dos colaboradores no processo de transformação digital, o desalinhamento dos sistemas de informação com os processos de negócio, a reduzida automação dos processos produtivos e a deficiência de ferramentas de apoio à decisão são apenas alguns exemplos dos vários desafios que as empresas enfrentam. Estes desafios assumem uma maior complexidade para as PMEs, quer pela capacidade de investimento, quer pela capacidade de recursos humanos. 

Mas nem tudo são más notícias: o baixo nível em que as empresas se encontram permite que a evolução para níveis superiores seja mais acelerada e os resultados do investimento sejam rapidamente percetíveis. Torna-se imprescindível consciencializar as empresas para a necessidade da Transformação Digital de forma a elevar os níveis de produtividade e competitividade e aumentar a resiliência. É aqui que instituições como o INESC TEC têm um papel fundamental, guiando as empresas num processo de Transformação Digital estruturado, que lhes permita, de facto, atingir um nível de maturidade elevado, tornando o tecido empresarial nacional verdadeiramente competitivo.

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