Criptomoedas

INESC TEC Science Bits – Episódio 4

PODCAST INESC TEC Science Bits (16:27 — 22,6 MB)

Oradores convidados:

Francisco Maia, Laboratório de Software Confiável

Francisco Cruz, Laboratório de Software Confiável

Palavras-chave: Criptomoedas | Bitcoin | Blockchain | Keyruptive| Carteira Digital

Francisco Maia (esquerda) & Francisco Cruz (direita)
Francisco Maia (esquerda) & Francisco Cruz (direita)

Criptomoedas: moedas digitais que vieram para ficar.

As criptomoedas são moedas digitais, sem materialização física, portanto, cuja existência e transação é baseada num conjunto de primitivas criptográficas.  Existem diferentes tipos de criptomoedas e, cada uma, com tecnologia e objetivos potencialmente diferentes. A primeira moeda digital baseada nesta tecnologia e com alguma projeção mundial foi a bitcoin.

As moedas digitais vieram para ficar, sem dúvida. Não sabemos, no entanto, qual será o sistema ou sistemas de moeda digital mais prevalentes, existindo muitos fatores em jogo. A tecnologia atual precisa ainda de desenvolvimento e esse processo será muito interessante de acompanhar.

Descentralização: liberdade, poder, mas também responsabilidade.

O objetivo desta moeda digital passa por tornar a gestão e transação de dinheiro completamente independente de governos, bancos ou quaisquer instituições intermediárias. O desenho desta moeda aspirava a transações instantâneas, diretas entre pessoas e sem limitações de fronteiras.

A descentralização dá oferece poder ao indivíduo, que agora deixa de depender de qualquer terceiro para receber ou efetuar transações monetárias.  Inversamente, deixa também de ter tudo o que é positivo nos sistemas de mediação. É perdida conveniência e quaisquer seguranças.

Blockchain: tomada de decisão baseada num acordo distribuído.

A blockchain não é nova na literatura e é vista como a principal inovação tecnológica das criptomoedas. Tal como o nome indica, corresponde a blocos de informação, validados em cadeia.

Num sistema de moeda digital existe um registo de todas as transações efetuadas ao longo do tempo. Na prática, este registo, diz quem tem que moeda e em que quantidades. Se um utilizador “A” desejar fazer uma transação para “B”, tem que registar a transação, o seu valor, e assinar. Ora, a forma de todos chegarem a um acordo sobre a validada dessa mesma transação, passa pela tecnologia blockchain. Metaforicamente falando, a transação passa a ser “escrita na pedra”, ou seja, é imutável e não pode ser adulterada nem apagada.

Satoshi Nakamoto: a “peça sem rosto” que veio despoletar este novo mercado.

Em 2008 é publicado um artigo científico da autoria de Satoshi Nakamoto que, na verdade, ninguém sabe quem é. Pode ser uma pessoa ou um conjunto de pessoas. Existem tantas teorias que suspeitamos que mesmo que aparecesse o verdadeiro Satoshi haveria quem duvidasse. O que é certo é que nesse artigo é proposto um sistema, composto de múltiplas peças e tecnologias que, embora já existissem, nunca tinham sido alinhadas daquela forma, permitindo resolver um problema do acordo distribuído: a escala. Este desenho permite a “escrita na pedra” para milhares de utilizadores, algo que com algoritmos clássicos não era possível.

Simplificando, o sistema funciona com base num puzzle computacional que demora, em média, dez minutos a ser resolvido. A resolução do puzzle dá direito a escrever “na pedra” uma vez, dando origem a um novo puzzle. Este processo controla automaticamente o acesso ao registo, cuja integridade é assegurada pelo caráter público do mesmo, podendo ser verificado por todos. Existe ainda um incentivo monetário à resolução do puzzle, que garante que haja sempre participantes a manter o registo ativo. É, de facto, um desenho muito interessante mesmo com todas as limitações que lhe são conhecidas, como o desperdício de energia. Outro facto aliciante é que a dificuldade de resolução deste puzzle vai aumentando ao longo do tempo, de forma a acompanhar a evolução do poder computacional mundial, bem como a manter o tempo de resolução constante nos dez minutos.

Dinheiro ou cartão? Em moedas digitais, por favor.

O valor das moedas é definido em mercado livre. Qualquer pessoa pode comprar e vender criptomoedas. O preço que está disposto a pagar, em moeda FIAT (euros, dólares, etc.), influencia diretamente o mercado. Há cerca de cinco anos, por exemplo, o valor da bitcoin era de apenas 200$, mas com o crescente interesse mundial na moeda e na tecnologia, a procura aumentou muitíssimo. Como a oferta da moeda é limitada, tal resultou num aumento astronómico do valor de uma bitcoin, atingindo o máximo de 19000$, nos finais de 2017. Ou seja, observou-se um aumento de cerca de 9500% em 2 anos. Após este pico, houve uma consciencialização global de que, talvez, a bitcoin e a blockchain não pudessem resolver todos os problemas do mundo. Com a diminuição do entusiamo e, consequentemente, da procura, assistimos a uma desvalorização da moeda para cerca de metade do valor.

Esta volatilidade faz com que, na prática, as moedas digitais sejam mais vistas como um instrumento de investimento. Há bastantes lugares no mundo que já aceitam pagamentos diretos em bitcoin, mas, atualmente, não têm tanta procura, tendo em conta a volatilidade do valor da moeda. E é precisamente por esse motivo que estão a surgir um novo tipo de moedas digitais, as stable coins, cujo valor é constante, podendo ser usadas como uma moeda física.

Keyruptive: spin-off do INESC TEC cria carteira móvel para guardar moedas digitais

O lançamento da aplicação móvel Keyruptive está previsto para finais de julho, para Android e iOS. Esta aplicação vem oferecer segurança e conveniência aos adeptos das moedas digitais.

A descentralização associada ao mercado das criptomoedas implica que sejam as próprias pessoas a terem que guardar e gerir os seus próprios fundos. Na verdade, a interação com todos estes sistemas depende de um armazenamento seguro de uma chave privada. Esta chave é aquilo que permite a um utilizador movimentar os seus fundos digitais. De um modo simplificado, mas verdadeiro, podemos mesmo afirmar que a chave privada representa os fundos de um utilizador. Ora, a dificuldade em guardar de forma segura e, ao mesmo tempo acessível, um pedaço de informação digital é, naturalmente, um desafio muito interessante. Note-se que a dificuldade é tal que ainda hoje as formas mais seguras de o fazer são aquelas que recorrem a dispositivos físicos ou à materialização da chave. Impensável no século XXI.

Foi neste contexto que surgiu a Keyruptive, uma carteira móvel para moedas digitais. O objetivo deste projeto é aliar a máxima segurança na gestão e armazenamento da chave, à conveniência, ao permitir que a mesma possa ser acedida em qualquer lugar, a qualquer altura.

Keyruptive: tecnologia consegue patente nos EUA

Em termos tecnológicos, para o qual conseguimos uma patente nos EUA, recorremos a um algoritmo de distribuição de confiança, ou seja, a chave é “partida” em dois ou mais pedaços aleatórios, guardados em diferentes locais físicos, mas online. Só o utilizador, através do seu telemóvel, quando pretende executar uma transação, consegue reconstruir e, momentaneamente, materializar a chave no seu telemóvel, para assinar a transação. Após a transação, a chave é descartada e deixa de existir no telemóvel. Deste modo, o utilizador pode, por exemplo, perder o telemóvel, que a chave não está dependente do mesmo.  Através desta inovação tecnológica, conseguimos um equilíbrio muito interessante entre a segurança e conveniência que oferecemos aos nossos utilizadores.

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