Explorar o oceano

INESC TEC Science Bits – Episódio 8

PODCAST INESC TEC Science Bits

Oradores convidados:

Rui Campos, Centro de Telecomunicações e Multimédia

Bruno Ferreira, Centro de Robótica e Sistemas Autónomos

Palavras-chave: telecomunicações | Internet | banda larga | mar profundo | robótica | veículos autónomos

Rui Campos e Bruno Ferreira

O exercício da investigação nos oceanos

A investigação marítima e a exploração da superfície e do fundo do mar são alguns dos maiores desafios vividos por países com uma extensa costa marítima, como é o caso de Portugal. Para além das atividades de turismo, pescas, transportes e desportos marítimos, há muito ainda por explorar numa área que ocupa cerca de 70% da superfície terrestre e que alimenta um grande volume de comércio externo. Não se conhecem limites para tudo o que ainda se poderá aprender com a exploração dos oceanos e desenvolver com toda essa informação.
A União Europeia tem vindo a promover uma estratégia “azul” detalhada, em que define metas para os descobrimentos feitos nos oceanos para os próximos anos, tanto à superfície como nas profundezas, num trabalho continuado por Portugal face à sua extensa área costeira. Considerando que muitas das fronteiras da União Europeia são costas e espaços marítimos, a busca por novas fontes de riqueza torna-se crucial em termos económicos, ambientais, políticos e estratégicos.

“O problema é muito complexo e deve agregar conhecimentos multidisciplinares da ciência.”

A exploração de recursos marítimos, especialmente a grandes profundidades, é muito exigente. Não só requer uma intensa mobilização de meios físicos localmente, como também obriga a que existam capacidades sustentáveis para controlar, observar, navegar e transportar a informação.
Antes de avançar com qualquer exploração, há que garantir as condições aos investigadores de recolha, transmissão e armazenamento de dados, para que depois esses cientistas possam trabalhar a informação recolhida e partir para as respetivas análises e conclusões. Se pensarmos, por exemplo, que a pressão da água no fundo do mar é tão grande que esmagaria o corpo de um ser humano, é necessário considerar muitos aspetos diferentes quando falamos em explorar os oceanos.
Este processo exige, portanto, o cruzamento de esforços de áreas multidisciplinares da ciência, pois só assim será possível avançar na investigação de um meio tão adverso, extenso e ainda desconhecido.

Explorar o mar: que desafios?

Quando navegamos no oceano ou mergulhamos no mar profundo, não conseguimos ter as mesmas capacidades de comunicação que dispomos enquanto na superfície terrestre. A comunicação e troca de informação no mar profundo são mais difíceis de concretizar eficazmente e a exploração nestes meios torna-se mais difícil, isto para que seja possível a recolha, transmissão e armazenamento de dados.
Portanto, além de todos os meios necessários à investigação em ambiente real, é preciso garantir a disponibilidade de redes de telecomunicações móveis e sem fios, que permitam a comunicação digital em zonas remotas do oceano, em particular no mar profundo, onde a rede de comunicações precisa de vencer condições muita adversas, nomeadamente à propagação de sinais em meio aquático e a grandes profundidades.
Claro que todas estas tecnologias são pensadas para apoiar os investigadores, de forma a garantir a sua segurança e operacionalidade, e sobretudo para aumentar o alcance do conhecimento de forma efetiva. Nem todos os pontos de recolha de dados são facilmente acessíveis, pelo que neste campo a robótica ganha um papel especial. Veículos autónomos que possam ajudar os investigadores vão certamente complementar o conjunto de soluções usadas na exploração marítima, que desta forma vai ganhando novos contornos e imposições.

Monitorizar uma extensa área territorial remotamente

Além da exploração marítima propriamente dita, com vista a recolha de novos dados e informações que permitam avanços em termos sociais, políticos e culturais, há ainda que ter em conta que, sendo “gestores” de uma extensa área de mar, como é o caso de Portugal, as autoridades têm de necessariamente preocupar-se em exercer soberania sobre o seu território, e não só explorá-lo.
Tal como acontece com a superfície terrestre e as respetivas fronteiras, o corpo marítimo de uma costa é permeável a intrusões, problemas ecológicos e desenvolvimentos desviantes, pelo que é prudente e aconselhável que toda essa extensa área seja monitorizada o mais detalhadamente possível. O problema está em como fazê-lo de forma contínua e eficaz.

Custo ou investimento?

Como não podia deixar de ser, há um problema transversal a todas estas preocupações e que soma mais um desafio a superar, que diz respeito aos custos inerentes a todas estas tecnologias e atividades. Ideias inovadoras e avanços científicos carecem normalmente de elevados investimentos, o que em certos casos inviabiliza a investigação por si só, ao impedir o desenvolvimento de projetos exploratórios.
Portanto, uma grande questão se impõe: será possível superar todos estes desafios, conquistar os oceanos e fazê-lo a um custo suportável pelas economias atuais?

 

 

PHP Code Snippets Powered By : XYZScripts.com
EnglishPortugal