As futuras redes 6G devem fazer da privacidade dos dados uma das prioridades. O INESC TEC integra o PRIVATEER, um projeto europeu que quer fazer uma análise de segurança robusta e descentralizada, baseada em Inteligência Artificial, para redes 6G. “Privacidade” é a palavra-chave.
Descentralizada, globalmente conectada e constituída por ambientes heterogéneos: é isto que se espera da rede 6G. No entanto, neste ambiente, manter a privacidade é um “problema de largo espectro e de difícil mitigação”. É aqui que entra o projeto europeu PRIVATEER. O pontapé de saída aconteceu em fevereiro, em Atenas, com uma reunião de parceiros – um deles é o INESC TEC.
Mas o que quer fazer este projeto? António Pinto, investigador do INESC TEC, sumariza assim os objetivos do PRIVATEER: “Desenvolver tecnologias capacitadoras de cibersegurança e privacidade que possam vir a ser adotadas nas futuras redes 6G. Se a missão do projeto for alcançada, todos ficaremos mais bem protegidos do ponto de vista da nossa privacidade e da nossa cibersegurança”.
A missão do Instituto neste consórcio recai sobre “a problemática da partilha de informações de ciberataques com requisitos de confidencialidade, privacidade e, eventualmente, anonimato.” Isto porque facilmente se aceita que a adoção de mecanismos de partilha de informação de ciberataques pode facilitar a proteção de outros alvos no futuro. No entanto, quanta informação devemos partilhar? Com quem? Com que periodicidade? “Tudo isto são questões que se levantam se tivermos em consideração a privacidade dos utilizadores”, reitera António Pinto. O conceito de zero trust networks – baseado no mote “nunca confiar, verificar sempre” – pode ser um caminho, “mas implementá-lo em cenários como os previstos para as redes 6G será um caminho difícil”.
Uma das missões do PRIVATEER passa por permitir fazer uma análise de segurança robusta e descentralizada que preserve a privacidade, baseada em Inteligência Artificial, para redes 6G. “Quer-se, então, garantir privacidade aos utilizadores, mas também aos demais intervenientes. Diria que, no que à privacidade diz respeito, está muito, senão tudo, por fazer”, explica o docente do Instituto Politécnico do Porto.
O problema da “segurança intrusiva”
O projeto europeu aponta também baterias à “segurança intrusiva”, que não pode “ser considerada aceitável”. Este conceito “está relacionado fortemente com o de privacidade”. Pense-se, por exemplo, no uso de encriptação extremo-a-extremo nas aplicações móveis de troca de mensagens que usamos diariamente: a premissa aqui é que, para haver uma segurança mais global, há a necessidade de as entidades judiciais e de segurança terem a capacidade de se imiscuir nas conversas que temos em aplicações como o WhatsApp ou Messenger. “Tal implicaria acabar com o uso de encriptação extremo-a-extremo, impactando na nossa privacidade em prol da segurança mais global”, acrescenta António Pinto.
E este cenário pode repetir-se nas redes de comunicação 6G? É esse o receio. “Considerando um cenário de âmbito mais lato, como é o 6G, este impacto na privacidade pode agravar-se pois, além das mensagens trocadas, poder-se-á ter acesso a informações de localização, aplicações utilizadas, serviços pedidos, dados pessoais, entre outros. Tal justifica que a privacidade assuma um lugar cimeiro quando se começa a pensar nas futuras redes 6G”, explica o investigador do INESC TEC.
António Pinto acrescenta ainda que, atualmente, as necessidades de segurança contrastam com a informação necessária para automatizar processos de proteção: “Para proteger é preciso monitorizar, mas monitorizar implica obter informação (possivelmente) excessiva sobre o comportamento dos utilizadores”.
O PRIVATEER, financiado pelo programa Horizonte Europa, ao abrigo do Smart Networks and Services Joint Undertaking (SNS JU), tem duração estimada de 36 meses e um orçamento de cerca de cinco milhões de euros.
O INESC TEC não é a única organização portuguesa no consórcio – o Instituto Politécnico do Porto integra também o consórcio de 13 parceiros.