Diários de uma Pandemia: o testemunho das mulheres portuguesas sobre o primeiro ano de COVID-19

São as mulheres mais velhas que mais relatam preocupação com a sua saúde e a dos seus entes queridos, que mencionam ter mais medo de serem infetadas e que dizem conhecer mais pessoas que faleceram devido à COVID-19. As mulheres com mais idade apresentam também menos sentimentos negativos de tristeza, desespero, depressão e ansiedade e menor dificuldade em lidar com a situação atual do que as mais novas.

De ressalvar que as mulheres com crianças até aos 10 anos recorreram mais aos cuidados de saúde, durante o período em análise, e fizeram mais frequentemente testes para diagnosticar a infeção por SARS-CoV-2.

Estes são alguns dos novos resultados divulgados no relatório do estudo Diários de uma Pandemia, que apresenta os testemunhos das mulheres portuguesas participantes no inquérito relativamente ao primeiro ano da pandemia de COVID-19.

A investigação, conduzida pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) e pelo Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC), em parceria com o jornal PÚBLICO, iniciou a sua segunda fase a 3 de fevereiro de 2021.

Inscreveram-se para participar nesta segunda fase do estudo 3674 pessoas, que até 5 de março de 2021 preencheram mais de 65 mil questionários. A análise incluiu dados de 2636 mulheres, com idades entre os 18 e os 60 ou mais anos, que responderam aos primeiros questionários propostos no âmbito desta fase do estudo.

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Mulheres mais velhas mais preocupadas com a sua saúde e a dos entes queridos

De uma forma geral, mais de metade (54%) das mulheres com 60 ou mais anos relevaram, em fevereiro de 2021, estar sempre, quase sempre ou muitas vezes preocupadas com a sua saúde ou com a dos seus entes queridos. Mas 48% das participantes no estudo com idades entre os 30 e os 39 anos relevaram também ter esta preocupação.

A investigação mostrou do mesmo modo que as mulheres entre os 50 e os 59 anos foram as que mais referiram conhecer pessoalmente alguém que faleceu devido à COVID-19. Estas participantes, a par das mulheres com 60 ou mais anos, indicaram ter maior receio de serem infetadas.

No que diz respeito ao bem-estar, verificou-se que tanto os sentimentos negativos de tristeza, desespero, depressão e ansiedade, como a dificuldade em lidar com a situação atual foram mais frequentes nas mulheres mais jovens do que nas mais velhas.

Já o sentimento de frustração por não poder cumprir as rotinas diárias foi mais reportado pelas mulheres com idades entre os 30 e os 39 anos (49%) e pelas que têm crianças até aos 10 anos no agregado familiar.

Idas aos hospitais: menos frequentes entre as mulheres com mais de 60 anos e mais comuns entre as que têm filhos até aos 10 anos

No que diz respeito à utilização dos cuidados de saúde, o relatório agora divulgado indica que as mulheres mais velhas (com 60 ou mais anos de idade) deslocaram-se menos aos hospitais por motivos relacionados com a COVID-19 (apenas 2% o fez), comparativamente com as participantes mais novas (entre os 30 e os 49 anos) e com as que têm crianças até aos 10 anos.

Relativamente ao uso da Linha SNS24, observou-se, desde março de 2020, que mais de um terço das mulheres até aos 49 anos contactaram esta Linha por motivos relacionados com a COVID-19, ao passo que apenas 17% das participantes com 60 ou mais anos o fez. Em comparação com as mulheres que não têm filhos, as que têm crianças contactaram mais frequentemente a Linha SNS24.

No que diz respeito ao contacto com o médico de família à distância, as mulheres de faixas etárias mais novas, onde se incluem as que têm crianças, mencionaram recorrer mais frequentemente a este tipo de serviço do que as mais velhas.

Globalmente, as deslocações presenciais aos centros de saúde por motivos relacionados com a COVID-19 foram claramente menos frequentes do que os contactos realizados à distância.

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Mais contactos de risco entre as mulheres mais jovens

As mulheres mais jovens (com menos de 30 anos) foram as que mais reportaram ter tido contacto pessoal com um caso suspeito de infeção por SARS-CoV-2, desde março de 2020, e foram também as que mais necessitaram de estar pelo menos uma vez em quarentena, na sequência de um contacto de risco, comparativamente com as participantes das outras faixas etárias.

Desde o início do estudo, as mulheres entre os 18 e os 49 anos, com ou sem crianças no agregado, foram as que mais realizaram testes para diagnóstico da infeção por SARS-CoV-2 (PCR), ao passo que as participantes mais velhas (com 60 ou mais anos) foram as que menos testes fizeram para saber se estavam infetadas.

O número de testes positivos à COVID-19 entre as participantes dos Diários de uma Pandemia foi relativamente constante em todas as faixas etárias até aos 59 anos, sendo inferior nas mulheres com 60 ou mais anos (apenas 3,8% tiveram diagnóstico confirmado).

As mulheres mais jovens foram também as que mencionaram ter um maior número de infeções no seu agregado familiar, contrariamente às participantes com 60 ou mais anos, que indicaram ter tido menos casos de infeção confirmada no seio da família.

Continue a participar nos Diários de uma Pandemia!

O estudo Diários de uma pandemia iniciou a sua segunda fase no dia 3 de fevereiro de 2021 e está, desde então, a recolher informação sobre o modo como os Portugueses atuam em relação a um conjunto de situações que poderão influenciar o curso da pandemia de COVID-19 em Portugal.

Para produzirmos conhecimento científico de relevo nesta área, precisamos da sua colaboração. Por isso, continue a participar, dedicando 5 minutos do seu tempo para responder às questões do nosso inquérito: https://diariosdeumapandemia.inesctec.pt/.

 

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