O REPMUS – Robotic Experimentation and Prototyping with Maritime Unmanned Systems, o maior exercício de experimentação operacional de sistemas não tripulados do mundo, realizou-se mais uma vez em Portugal, entre os dias 9 e 27 de setembro de 2024, nas localidades de Troia e Sesimbra.
Ao longo de 2 semanas, o INESC TEC mobilizou mais de 15 pessoas de duas áreas de investigação – robótica e sistemas autónomos e fotónica – para participarem no maior exercício de robótica do mundo. Se a área da robótica é, por um lado, já veterana nestas andanças, a mobilização de investigadores que trabalham em fotónica é uma novidade. Mas mesmo os veteranos voltaram a bater recordes!
Esta foi a primeira vez que foram testados robôs autónomos e não tripulados para a proteção de infraestruturas críticas em profundidade. Os robôs EVA e TURTLE são os primeiros robôs – totalmente desenvolvidos em Portugal – com capacidade operacional demonstrada para operação no mar profundo e possuem características únicas a nível mundial, sendo o TURTLE o único veículo lander robótico com possibilidade de permanência no fundo do mar e relocalização autónoma.
Durante o exercício, foram testadas diversas tecnologias e drones que operam em diferentes ambientes marítimos, incluindo superfícies, subsuperfícies, áreas aéreas e terrestres. O REPMUS – organizado pela Marinha Portuguesa – contou com a participação de 23 países, 20 navios e reuniu cerca de 2 mil participantes.
A participação dos investigadores de robótica e sistemas autónomos do INESC TEC
Os investigadores de robótica e sistemas autónomos do INESC TEC participaram num teste real de capacidade operacional para proteção de infraestruturas críticas a grande profundidade. Nesta missão com duas fases, uma primeira chamada RED force – que tinha como objetivo avaliar a capacidade de intervenção e ataque a infraestruturas critica, como cabos submarinos – e uma segunda de nome BLUE force – que pretendeu avaliar a capacidade de deteção e proteção de ameaças -, o INESC TEC participou com os robôs submarinos EVA e TURTLE.
Na primeira fase, a RED force, após a colocação de um cabo submarino a mais de 800m de profundidade, o robô EVA foi utilizado parta efetuar o reconhecimento do local de assentamento e fazer uma localização precisa. Em seguida, o “lander” robótico TURTLE foi largado e programado para ser colocar no fundo do mar junto ao cabo submarino alvo, de modo a sinalizar ameaças.
Já na BLUE force, o EVA foi utilizado para identificar e obter a geolocalização precisa da ameaça feita pelo TURTLE. A missão foi realizada com sucesso. O TURTLE regressou à superfície e foi recolhido, depois de permanecer cinco dias no fundo do mar, a mais de 800 metros. Nesta segunda fase, participaram múltiplos meios de várias marinhas da NATO participantes. Apenas os robôs INESC TEC – com tecnologia totalmente portuguesa – e um robô norueguês conseguiram geolocalizar a ameaça.
“As operações feitas em colaboração com a marinha portuguesa foram realizadas a partir de diferentes navios, nomeadamente o NRP D. Carlos I e o NRP Sines, evidenciando a capacidade operacional e demonstrando a capacidade da Marinha Portuguesa de, juntamente com os seus parceiros, dispor de meios inovadores e de tecnologia de ponta para missões de crucial relevância, com particular incidência para o mar profundo”, explica José Miguel Almeida, investigador do INESC TEC.
Ainda no âmbito destes exercícios navais, a equipa do INESC TEC participou com o veículo autónomo submarino EVA em dois exercícios de simulação de resgate e apoio a emergência de submarinos. Neste caso, o submarino da marinha NRP Arpão assentou no fundo do mar simulando uma emergência.
O primeiro exercício endereçou a utilização de veículos submarinos autónomos para a geolocalização e levantamento do estado do submarino. Já no segundo exercício, foi utilizado o veículo autónomo submarino para apoiar e guiar uma equipa de mergulhadores da marinha para aceder ao NRP Arpão e prestar auxílio, transportando equipamento para bordo e retirando outro. Esta operação ocorreu com a colaboração do robô EVA e localizou a posição do submarino com precisão indicando aos mergulhadores o local exato, para além de ter conseguido também fazer reconhecimento visual e de sonar das condições de assentamento.
“Foi ainda possível responder a um pedido da marinha neerlandesa e do instituto de I&D TNO para procura e recolha de um equipamento de monitorização acústica perdido no fundo do mar. Neste caso, a nossa equipa conseguiu localizar e recolher o equipamento através do robô EVA, com uma operação conduzida a partir do navio Mar Profundo do INESC TEC”, refere José Miguel Almeida.
Durante o Distinguished Visitors Day foram expostos no stand do INESC TEC os sistemas robóticos submarinos EVA e Trutle III, e o veículo autónomo de superfície PORTUS, bem como diversos resultados obtidos durante os exercícios. Pelo stand do INESC TEC passaram personalidades como o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ou o Ministro da Defesa, Nuno Melo.
A presença dos investigadores da área da fotónica
Entre as cerca de 100 entidades participantes, o INESC TEC destacou-se ainda pela instalação do sistema DAS (Distributed Acoustic Sensing) no cabo submarino Sagres, localizado nas instalações da Altice, em Sesimbra. “Este equipamento permitiu monitorizar a movimentação de navios e outros eventos na área de Troia durante o exercício”, explica Orlando Frazão, investigador do INESC TEC.
Os dados recolhidos serão analisados pela Marinha Portuguesa em colaboração com o INESC TEC, através do processamento de sinal. No futuro, espera-se que novas interações sejam discutidas entre ambas as entidades, visando a utilização da tecnologia DAS em cabos submarinos em todo o território português. Fruto desta colaboração, já foi submetido um projeto à FCT, no âmbito do financiamento PRR, para o investimento “RE-C05-i08 – Ciência Mais Digital”. “Este projeto visa o desenvolvimento de uma solução avançada para a deteção de eventos em cabos submarinos, através dos dados obtidos com a tecnologia DAS, utilizando técnicas de machine learning e inteligência artificial”, explica Orlando Frazão. A candidatura conta com a participação da Marinha Portuguesa e com as competências do INESC TEC na área da Inteligência Artificial e Apoio à Decisão e da Fotónica Aplicada.
Os investigadores do INESC TEC mencionados na notícia têm vínculo ao INESC TEC, ao IPP-ISEP e à FCUP.