João Matos viu a sua dissertação “Research Frameworks towards Health Equity” ser distinguida pela IEEE Portugal. O investigador do INESC TEC estudou potenciais preconceitos da IA na saúde e como “conceitos humanistas” podem equilibrar este jogo.
A tese de mestrado do investigador INESC TEC João Matos, que, através de uma perspetiva de equidade, estudou o impacto de algoritmos da Inteligência Artificial (IA) na saúde, foi um dos trabalhos distinguidos pela IEEE Portugal, na 4.ª edição do “Outstanding MSc Thesis Award”.
A dissertação “Research Frameworks towards Health Equity”, publicada em junho, explora a “necessidade de priorizar conceitos de equidade na investigação em saúde”. A tese analisa os potenciais preconceitos da IA no domínio dos cuidados de saúde, com foco nas disparidades raciais e étnicas. O trabalho do investigador do INESC TEC aborda ainda a necessidade de se criarem sistemas de apoio à decisão que sejam seguros, confiáveis e melhorem a prática clínicas para todos os pacientes.
A ligação entre IA e saúde acompanha João Matos desde a licenciatura. E foi durante o percurso académico que atentou no facto o impacto da IA na saúde “parecer estar um pouco aquém do que foi prometido” – “especialmente”, acrescenta, quando comparado com outras indústrias.
“Uma das principais razões para isso é o facto de os modelos de IA apresentarem o risco de incorporar e exacerbar vieses sociais: estes são um reflexo dos dados que temos e usamos para treinar os nossos modelos, porque o próprio ser humano é também ele enviesado”, adianta o investigador. E só se combate esse enviesamento com “conceitos humanistas” – como equidade e justiça –, vinca João Matos.
O argumento verteu para a tese, que explora ainda os desafios da ciência dos dados no domínio da equidade na saúde e “propõe três quadros de investigação validados com uma base de dados médica”, explica a IEEE Portugal, que premiou as quatro melhores teses de mestrado de 2023. Estes quadros abordam as probabilidades de atribuição de tratamento, a eficácia do tratamento em subpopulações e métodos de correção para dispositivos médicos enviesados.
A tese foi realizada entre o MIT e a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). João Matos fez um semestre em Boston e um semestre no Porto, ao abrigo de uma bolsa Fulbright .
No INESC TEC, o investigador continua a aplicar os “conceitos humanistas” que trouxe do mestrado na FEUP. Para além de estar a “desenvolver uma nova técnica de análise de imagem para detetar simetria anatómica” no âmbito do projeto Cinderella, investiga “disparidades raciais na medição periférica de temperatura na unidade de cuidados intensivos”.
A relação com o MIT tem permitido ainda ao investigador estudar um dataset de imagens de córnea com o objetivo de “construir modelos de IA que possam, de forma justa, prever tipos de infeção e, eventualmente, desacoplar, features clínicas de features biométricas”.