Investigadores do Centro de Fotónica Aplicada (CAP) e do Centro de Robótica Industrial e Sistemas Inteligentes (CRIIS) desenvolveram uma plataforma móvel para monitorização metabólica em viticultura de precisão. A solução integra sensores avançados que utilizam a luz para medir as transformações orgânicas que ocorrem na planta e, desta forma, obter uma maior qualidade na colheita. A tecnologia é inédita no mundo e está a ser testada na região do Douro, na Quinta do Seixo e na Quinta dos Aciprestes.
Este sistema automático de espectroscopia está integrado numa plataforma robótica que percorre a vinha autonomamente recolhendo a informação metabólica da fisiologia da planta (estado metabólico da planta e a maturação do fruto. As técnicas de espectroscopia geram imagens georreferenciadas do metabolismo da videira, composição da uva e solos, dados que são depois correlacionados e interpretados por sistema de inteligência artificial com autoaprendizagem.
“Conseguimos monitorizar o metabolismo da planta ao longo do ano e principalmente ao longo da colheita, para percebermos quais são as melhores alterações que se podem fazer a nível do solo e da própria manipulação da planta por forma a que consigamos alcançar a qualidade desejada da agricultura“, afirma Rui Martins, coordenador do projeto e investigador do CAP.
“O metabolismo das plantas é um fator importante a ter em conta na gestão e controlo da viticultura de precisão, neste caso para assegurar a qualidade dos vinhos do Porto. A qualidade da uva está diretamente relacionada à fisiologia da vinha, intimamente ligada à complexidade da interação do solo, água e clima. E é esta análise detalhada da composição de folhas e frutos, na qual podemos observar dados dos nutrientes e absorção de água, ciclo de fotossíntese e desenvolvimento de tecidos de uva em termos de absorção de nitrogênio, ácidos orgânicos, pigmentos, açúcares, taninos e fenólicos que conseguimos obter com esta tecnologia.”, afirma Ana Morais, responsável técnica na ADVID – Cluster da Vinha e do Vinho.
A viticultura de precisão tem como objetivo maximizar a produtividade e qualidade das produções, ao mesmo tempo que contribui para a sustentabilidade ambiental. São várias as tecnologias já existentes, mas este sistema constitui uma mudança de paradigma ao nível das ferramentas avançadas para agricultura de precisão.
“Tanto quanto nos é possível saber, é a primeira vez a nível mundial que se estuda o metabolismo da planta ‘in-vivo’ e ‘in-situ’. Este trabalho abre portas para a monitorização, diagnóstico e implementação de estratégias de agricultura de precisão ao nível molecular e celular. Acreditamos que irá mudar o paradigma da agricultura de precisão, que de momento está muito focada em métodos ‘data-driven’, ou seja, de análise de dados, para métodos causais, baseado no conhecimento científico de toda a biologia da planta e sua interação com o ecossistema”, acrescenta o investigador Rui Martins.
O sistema foi desenvolvido durante o projeto “METBOTS – Robots para metabolómica utilizando inteligência artificial com autoaprendizagem em agricultura de precisão”, uma parceria entre o INESC TEC e a ADVID, e financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (Ref. PTDC/EEI-ROB/31124/2017 e FEDER/COMPETE 2020 POCI-01-0145-FEDER-031124).
O investigador do INESC TEC mencionado na notícia tem vínculo ao INESC TEC.