Foi um dia para assinalar datas redondas. O INESC Brussels HUB Winter Meeting 2025 trouxe ao Porto mais de 200 pessoas para definir os próximos passos relativamente a um pilar central para o avanço da ciência, tecnologia e inovação na Europa: as infraestruturas de investigação e tecnologia. O encontro foi ainda mote para lembrar a progressiva integração europeia que Portugal começou há 40 anos – que correu lado a lado com a criação e desenvolvimento do INESC TEC – e assinalou os cinco anos de representação dos institutos INESC em Bruxelas.
As infraestruturas de investigação e tecnologia são um motor do desenvolvimento do ecossistema de inovação europeu, mas há falta de espaços que as tragam para o centro da discussão. Foi precisamente isso que se fez no INESC Brussels HUB Winter Meeting. No Porto, decisores políticos, responsáveis por infraestruturas e investigadores juntaram-se para partilhar e discutir perspetivas sobre governança, financiamento e integração destas estruturas nas estratégias europeia, nacional e regional.
E era difícil o Winter Meeting ter tema mais apropriado. É que o INESC TEC, que coorganizou o evento em conjunto com o INESC Brussels HUB, celebra, nos próximos meses, 40 anos marcados por uma “profunda integração em redes de inovação” e um forte “alinhamento com as agendas europeias”. “O nosso objetivo tem-se pautado por contribuir para a definição e implementação das políticas europeias, assegurando sempre a sua articulação eficaz com as estratégias regionais e nacionais”, adiantou João Claro, presidente do INESC TEC.
O mote estava dado para um dia recheado e repartido em dois momentos: se de manhã o auditório da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto foi palco de palestras e mesas redondas para identificar o ponto de partida – onde estamos e para onde queremos ir –, à tarde foi tempo de arregaçar as mangas. O caderno de encargos? Debater os desafios e identificar as necessidades das infraestruturas de investigação e tecnologia (RTI, na sigla em inglês) para que possam cumprir a sua missão – e, no final, apresentar soluções.
“O workshop sublinhou que o ecossistema europeu de I&D não prosperará se as Infraestruturas de Investigação e as Infraestruturas Tecnológicas não se unirem sob uma visão comum, uma visão que ultrapasse rótulos e assegure um percurso integrado para que as descobertas científicas cheguem eficazmente à indústria e à sociedade”, afirmou Ricardo Miguéis, responsável do INESC Brussels HUB.
Por infraestruturas mais acessíveis
Num momento crucial – às tensões geopolíticas junta-se a pressão para que a Europa assuma um lugar de destaque nos avanços tecnológicos –, e no encadeamento dos relatórios Letta e Draghi, os 200 participantes no Winter Meeting ouviram recomendações com vista a definir a próxima era de governança das RTI. Dominik Sobczak, da Comissão Europeia, reforçou a importância do tema do evento e apontou para a “falta de espaços” como o Winter Meeting para discutir o tema. Depois de reforçar a premência de se destinar 3% do PIB europeu para atividades de investigação, apresentou as conclusões do Grupo de Peritos em Infraestruturas Tecnológicas.
“O principal objetivo [do Grupo] era refletir sobre o conceito de uma política europeia para as Infraestruturas Tecnológicas – algo que não existia”, explica. O responsável da Comissão Europeia por este tema defende que estas infraestruturas, essenciais para testar e validar tecnologia, “devem ser acessíveis à comunidade académica, indústria e sociedade, e parte integrante das dinâmicas económicas, já que são catalisadoras de inovação tecnológica e adoção pelo mercado”.
“Temos uma política de infraestruturas de investigação há 20 anos e vimos que há uma lacuna importante para abordar a dimensão das infraestruturas tecnológicas. Assim, reunimos com os Estados-Membros, organizações e indústria para refletirem connosco, em conjunto, sobre quais poderiam ser os principais elementos dessa política”, adianta Dominik Sobczak.
Estas reflexões vão ser a lanterna para que a Comissão Europeia avance com uma estratégia holística, de forma a ir ao encontro das necessidades e facilitar a transferência de tecnologia. Dominik dá um exemplo: “existe uma correlação muito forte entre a existência de infraestruturas e o dinamismo empresarial numa determinada área tecnológica. E nós deveríamos ser capazes de ter um sistema em que, se uma boa ideia é desenvolvida à volta do Porto e não existem aí infraestruturas que apoiem essa ideia, ela possa beneficiar de serviços prestados noutros locais sem ter de se deslocar para essas áreas”.
Objetivo: “excelência”
Antes do primeiro painel do dia, moderado por Arlindo Oliveira, presidente da holding INESC e especialista em Inteligência Artificial, ainda houve tempo para Elena Hoffert, vice-presidente do Fórum Estratégico Europeu para as Infraestruturas de Investigação (ESFRI), realçar o esforço de “mais de 20 anos” para apoiar RTI de “excelência”.
Mais recentemente, o ESFRI avançou com um novo documento estratégico, em 2024, que mapeia as novas Infraestruturas de Investigação, e as necessidades e lacunas dessas interfaces de investigação que, frisa Elena Hoffert, “contribuem para as metas da União Europeia na transição digital e ecológica”.
A primeira parte do Winter Meeting chegou ao fim com dois painéis: um dedicado ao alinhamento com estratégias nacionais e regionais, que juntou Arlindo Oliveira, Domink Sobczak, Ricardo Simões (CCDR-N) e Sílvia Garcia (ANI). De seguida, José Carlos Caldeira, consultor da presidência do INESC TEC, moderou a troca de ideias entre Ana Portugal Melo (MIRRI), Ana Teresa Freitas (INESC ID), Bertrand Bouchet (CEA) e Fernando Sousa (CEI) sobre sustentabilidade, governança e estratégias de financiamento das RTI.
Durante a tarde, os participantes dividiram-se por salas para, numa abordagem prática, organizada em colaboração com o projeto RITIFI, identificarem as principais lacunas, desafios e oportunidades para as RTI, com especial destaque para a governança, os modelos de financiamento e a ponte entre estes centros e a indústria. As conclusões desta sessão contribuirão diretamente para os debates em curso a nível europeu sobre a forma de aumentar a eficácia e a sustentabilidade das infraestruturas europeias nos próximos anos.
“Foram partilhados pontos de vista muito interessantes sobre a forma de garantir a otimização das infraestruturas, para que estas possam manter-se na vanguarda, e assegurar que a celeridade e a escala do investimento sejam também adaptadas, por forma a garantir que a Europa se irá manter no mapa e dispor das infraestruturas adequadas para garantir a absorção de tecnologia essencial para que se mantenha competitiva”, sintetiza Sophie Viscido, da Technopolis, uma das dinamizadoras dos workshops.
Duas viagens em paralelo, o mesmo destino
Sendo este Winter Meeting um dos dois eventos-bandeira sob alçada do INESC Brussels HUB, já o Summer Meeting acontece mais perto da segunda metade do ano. O evento do passado dia 6 de março assinalou ainda cinco anos de representação conjunta dos cinco institutos INESC em Bruxelas – um “marco importante”, sublinhou João Claro.
“Há cinco anos, abrimos o nosso escritório na Rue du Luxembourg, em Bruxelas – poucos dias antes de a pandemia de Covid-19 ter mudado profundamente a nossa forma de trabalhar, colaborar e nos relacionarmos internacionalmente. De várias formas, a pandemia realçou a importância de redes fortes e resilientes e de ligações europeias estreitas, o que conferiu uma maior intensidade de propósito ao lançamento da nossa representação. Desde então, o INESC Brussels HUB tem vindo a crescer como um ponto de ligação entre os nossos institutos e o ecossistema europeu de investigação e inovação mais alargado”, reforçou.
O presidente do Instituto lembrou que o caminho para a integração no ecossistema europeu começou a ser trilhado há 40 anos: “A nossa viagem de quatro décadas decorre em paralelo com outro marco histórico”: a assinatura do Tratado de Adesão às Comunidades Europeias, que ancorou também o país num compromisso conjunto de priorizar a ciência, tecnologia e inovação como motores essenciais de desenvolvimento. Nesse mesmo ano, em 1985, o INESC dava os primeiros passos no Porto.
“Concebemos este ano de aniversário como mais do que uma reflexão sobre o passado; queremos que seja também uma oportunidade para afirmar direções para o futuro. Para o efeito, realizaremos uma série de eventos ao longo do ano, envolvendo parceiros nacionais e internacionais para abordar os principais desafios e oportunidades em matéria de ciência, tecnologia e inovação”, projetou João Claro.
Ao reunir especialistas, decisores e representantes de infraestruturas de toda a Europa, “o Winter Meeting reafirmou o papel da ação conjunta dos institutos INESC como força ativa no diálogo estratégico e na construção de políticas no domínio da ciência e inovação”, prosseguiu.
E acrescenta: “Num momento em que se redesenha o futuro das infraestruturas de investigação e tecnologia na Europa, o evento deixou claro que só com cooperação, visão e ação coordenada será possível garantir um ecossistema europeu verdadeiramente robusto, inclusivo e orientado para o impacto”.